30 de março de 2014

Marcos 10.35-45

“Porque Jesus foi entregue para ser crucificado?”

(Marcos 10.35-45)

 

Foco da Nossa Condição Decaída

A cruz é o resultado dos pecados humanos, mas a cruz também é o resultado do amor de Deus. Este texto nos chama a considerar o quanto estamos envolvidos com a sua morte das duas maneiras e, quebrantados por nossos pecados e pelo amor de Deus tomarmos o caminho da cruz como modelo para as nossas próprias vidas.

Introdução

Irmãos, nosso mundo está revelando em nosso dias o que, de alguma maneira, toda a humanidade já sabe desde os primeiros dias que sucederam a queda no Jardim do Éden, estamos em um caminho de grande colapso e aumento da maldade dos homens.
Uma visita aos arredores de qualquer grande campus universitário nos mostrará jovens, cada vez mais aderentes do álcool, maconha e cocaína. Ainda ontem, em uma rádio da cidade de São Paulo, ouvi a notícia que o número de moças universitárias que fazem uso do álcool e de cocaína aumentou significativamente. A mesma pesquisa diz que as jovens universitárias dão preferência ao uso da cocaína à maconha, que é mais comuns entre os homens. Dizem que preferem a cocaína à maconha por causa do cheiro e do fato de que a maconha estimula o apetite e elas não desejam engordar.
A Revista Veja publicou uma foto que chocou o mundo. Uma multidão síria, em busca de alimentos em meio a uma rua totalmente destruída no sul de Damasco. Isto tudo, em uma cidade. Por que estas coisas estão acontecendo ainda em nossos dias? Pelos mesmos motivos que a história já nos mostrou: O EGOÍSMO HUMANO. Desde a queda, até os nossos dias as razões mais evidentes da desgraça humana é que o egoísmo assumiu o controle dos corações humanos.
Este domingo, eu gostaria de meditar no texto em Marcos 10.35 a 45 e falar sobre esse mal tão aprofundado no coração dos homens e como ele levou Jesus à Cruz. Também gostaria de mostrar o grande paradoxo da Cruz, no qual posso dizer que o que matou Jesus na Cruz, foi morto por Ele por causa da Cruz.

As lições da Cruz
Jesus Foi Entregue à Cruz Porque o Egoísmo Dominou o Coração dos Discípulos

Curiosamente, Marcos, enquanto está compondo o seu evangelho, fez uma ligação direta entre a morte de Jesus e o egoísmo humano. Note que nas três ocasiões em que sua morte é anunciada e ele está ensinando os seus discípulos sobre a necessidade de ser morto, ele dá sequência a textos que tratam ou apontam para o egoísmo humano.
No capítulo 8, após repreender Pedro, Jesus faz o belo discursos sobre “o discípulo, negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo” (8.34-35). No 9, após o anúncio da morte, Marcos registra a conversa secreta dos discípulos sobre “qual deles o maior” (9.33-34). Por fim, no capítulo 10, note que o texto que segue é uma discussão egocentrada dos discípulos, que pedem a Jesus que sejam colocados um à direita e outro à esquerda dele no seu reino (ver 10.35-37).
O Filho do Homem será entregue - essa expressão pode ser encontrada no verso 33 do capítulo 10. A mesma expressão também é encontrada em 9.31. Nas duas ocasiões, Jesus estava apontando para a sua morte na cruz.
Talvez você ache que eu esteja exagerando ao dizer que o egoísmo dos seus discípulos tenha sido causa da entrega de Jesus à Cruz. Mas, espero poder lhe explicar isso ao final. Por enquanto quero que o texto nos ajude a pensar nisto.
A primeira coisa que se destaca desta história é que Marcos põe os discípulos em cheque todas as vezes que o assunto da morte de Jesus fazia parte das conversas particulares de Jesus com eles. Jesus os levava à parte para aprenderem as lições da cruz e quando você para para pensar se eles estão aprendendo, a nossa surpressa é: eles nada entenderam sobre a morte de Jesus.
Os textos que Marcos coloca em seguida, como o que temos em mãos hoje apontam para o fato de que eles estavam cegos para a graça, porque os seus olhos são conseguiam olhar para si mesmos.
Em Marcos, no entanto, este episódio do pedido tolo dos discípulos, se diferencia de Mateus em um detalhe para mim importante. Em Mateus, quem faz o pedido, apesar de estar ladeada pelos dois Tiago e JOão, foi a própria mãe deles. Marcos, entretanto, prefere nos dizer que o pedido era uma iniciativa dos discípulos.
Acredito que Marcos queria que seus leitores tivessem um entendimento muito claro do problema ligado aos discípulos. Pois nos dias em que o Evangelho foi lido pela igreja pelas primeiras vezes, os crentes tinham os apóstolos em alta conta e justamente a morte deles é que estava causando desespero, pois as testemunhas oculares de Jesus estavam deixando a caminhada e as promessas não estavam se cumprindo. Marcos está levando os seus irmãos a entenderem o problema que estavam enfrentando e que se tratava do mesmo problema que os próprios apóstolos enfrentaram: para seguir Jesus é preciso abandonar qualquer egocentrismo.
Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (Marcos 8.34).
Em nosso texto, Marcos prefere destacar Tiago e João e o seu pedido:
Então, se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir. E ele lhes perguntou: que quereis que vos faça? Responderam-lhe: permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda (Marcos 10.35-37).
Aproximaram-se dele - A primeira situação que devemos destacar aqui é que ele se aproximaram de Jesus. Sua intimidade com Deus era completamente egocentrada neste ponto.
Infelizmente, ainda podemos notar este tipo de intimidade egocentrada nos nossos dias. Ainda temos muitos crentes que se aproximam de Deus com a única intenção de construírem a sua própria glória ou reino.
Queremos que nos concedas um pedido - aqui temos um sinal de egocentrismo nas orações. Sim, nas orações fazemos pedidos a Cristo, mas o problema aqui é que este pedido estava totalmente concentrado neles mesmos. Será que nunca devemos orar pedindo algo para nós. Evidentemente este não é o ponto que estamos tratando, o ponto é que aqui eles estavam, em resposta ao anuncio da morte de Jesus, fechando o seu coração para o Reino de Cristo e usando Cristo para seus interesses.
Quando nossas orações são produto do nosso descaso com o próprio Reino de Deus uma preocupação exclusiva com o nosso reino, estamos vivenciando o nosso egoísmo.
Jesus, quando esteve diante de Pilatos indicou o egoísmo dos seus discípulos ao acusar a todos com a frase:
O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui (João 18.36).
Marcos está nos conduzindo a ver o egoísmo em uma relação direta com a morte de Jesus. OU seja, JESUS FOI ENTREGUE PORQUE TAMBÉM OS SEUS DISCÍPULOS ESTAVAM PRESOS AO SEU EGOÍSMO.

As lições da Cruz
Jesus Foi Entregue à Cruz Porque o Egoísmo é a Base da Estrutura da Sociedade Humana

Este ponto é mais fácil de compreender. Pois, na verdade, temos uma visão muito clara da estrutura social daqueles dias e percebemos que o poder estava nas mãos de pessoas muito egocentradas.
Jesus ouve o pedido dos filhos de Zebedeu e lhes diz que eles não sabem o que estão pedindo. Eles ainda não estão prontos para entender o seu modo de construir a nova sociedade para Deus.
Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado? Disseram-lhe: Podemos (Marcos 10.38-39a).
Mais uma vez, estamos vendo que de fato eles não compreendiam o que era realmente a Cruz de Jesus. Não entenderam a sua importância, necessidade e significado. Eles eram imaturos e por isso sua resposta apressada: Podemos!
Bebereis o cálice que eu bebo e receberei o batismo com que eu sou batizado; quanto, porém, ao assentara-se à minha direita ou à minha esquerda, não me compete concede-lo; porque é para aqueles a quem está preparado. Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João (Marcos 10.39-41).
Meus irmãos, os discípulos fizeram esta pergunta porque entenderam que as promessas de uma reino incluía uma sociedade dirigida e conduzida por Cristo: Na tua glória...
Jesus não nega que esta sociedade realmente está chegando, afinal o Reino estava próximo. Ele reafirma esta verdade ao dizer que haverá este prestígio para alguém, mas determinar isto era uma obra reservada à vontade do Pai. Os outros discípulos ficam indignados contra os irmãos e a razão disto é que todos eles desejam esta condição de prestígio. Eles já haviam conversado sobre isto antes.
Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho? Mas eles guardavam silencia, porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre qual era o maior (Marcos 9.33-34).
O erro deles não era considerar que haveria alguém ao lado de Jesus no trono da glória. O problema é que a sua motivação seguia um padrão estrutural de um mundo caído e egocentrado.
Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiores exercem autoridade Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos (Marcos 10.42-44).
Gostaria muito de abordar estes versos sobre a verdadeira natureza do reino e a mentalidade preparada para servir, mas não farei hoje. O ponto que eu quero destacar é o fato de que estas palavras de Jesus, repreende o modo de pensar dos discípulos.
Eles estavam justamente pensando segundo a estrutura caída do mundo, baseada no egocentrismo e pensando exatamente como os poderosos deste mundo.
Cristo foi entregue para ser morto porque o mundo pensa exatamente assim: os maiores dominam, submetem os demais, são obedecidos e servidos. Paulo, se referindo a este modelo estrutural de sabedoria humana disse:
Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada, mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou deste a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória (1Coríntios 2.6-8).
O ponto aqui é que precisamos admitir que a maldade do coração do homem é resultado de uma sabedoria mundana, ou resultado do conhecimento pretendido no fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, onde o homem deixou Deus e adotou a si mesmo como medida de todas as coisas. O ponto é que este mundo está estruturado no egocentrismo humano e isso foi razão a razão de Jesus ir para a Cruz.
As lições da Cruz
Jesus Foi Entregue Para Nos Libertar de Nosso Próprio Egoísmo

A Cruz é o lugar mais paradoxal da história. Alguns dos mais evidentes destes paradoxos podem ser considerados assim. Primeiro, na Cruz, quando os líderes judaicos pensavam ter silenciado Jesus, ela se tornou a mensagem mais sonora da glória de Cristo. Segundo, a Cruz é o lugar onde os homens demonstram o seu potencial para odiar e maltratar injustamente alguém, mas ali também é o lugar onde Deus pode manifestar o seu grande amor e o maior ato de justiça que se pode anunciar entre os homens.
Mas, para mim, neste texto, um outro paradoxo parece-me importante: NA CRUZ, O EGOÍSMO QUE PRENDEU E MATOU JESUS FOI MORTO POR ELE. Na Cruz, Jesus nos deu a oportunidade de viver libertos desta estrutura egocentrada do pecado em nosso coração.
Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Marcos 10.45).
Enquanto no inicio do texto Marcos chama a atenção para os discípulos, aqui no final ele nos chama a atenção para Cristo. Se no verso 33, ele é entregue, no verso 45 ele dá a sua vida. Se os discípulos querem se destacar pela importância, Cristo se destaca pelo serviço que realiza em favor de outros.
A Cruz nos liberta desta estrutura perversa do egocentrismo e deve nos fazer conscientes do valor da vida que se dá em favor dos outros e vive para os outros.
Neste verso, Marcos está preparando os seus leitores para viver em uma perspectiva em que o egocentrismo nada nos dará. Se vivermos na perspectiva egocentrista, o mundo continuará sendo construído com guerras, bebedices, drogas, traições.
O novo mundo que Cristo veio construir e que deve começar na igreja não é movido pelos interesse pessoais, mas pelo benefício do próximo. Isso não é utopia é uma questão de decisão pessoal.
Enquanto nos movemos em uma direção egocêntrica pensaremos o seguinte: eu não posso ser o único a viver assim, afinal serei consumido e só os outros ganharão. Evidentemente, não começaremos uma revolução de amor enquanto nossa prioridade for a supremacia sobre os outros.
Mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos - Meus amados irmãos, vejam  que estas palavras são libertadoras. Não precisamos competir com ninguém. Não precisamos ser maiores que ninguém. Se nos movermos pela fé cristã, vivemos segundo um modelo baseado na liberdade de servir e não ser servido.
Jesus rompeu a ditadura desta estrutura egocentrada e nos deu a possibilidade de um mundo onde o amor ao próximo é um valor superior à busca dos próprios interesses.
Quem se assentará à direita ou à esquerda, não importa! Mas será alguém que mais se assemelhe àquele que está sentado no trono: o FILHO DO HOMEM, O SERVO SOFREDOR. Essa é a ambição que deve mover o coração do cristão.


Conclusão

Muitas vezes, até mesmos nós, discípulos de Jesus, lidamos com as coisas de Deus como se o que realmente importasse fosse a nossa vontade. Assim, como Pedro, ou Tiago e João, as principais lideranças da religião judaica, ou até mesmo os romanos, crucificamos Jesus para a nossa vida e o deixamos lá, fora dos muros e voltamos a viver nosso padrão, baseado somente no que desejamos.
Esse é o ponto! Reveja suas atitudes e visite o seu próprio coração. Olhe para si mesmo e perceba se seu egoísmo não está, mais uma vez, entregando Jesus para ser crucificado. Mas, como toda história tem dois lados, essa não é diferente. Jesus se entregou por você, para romper o poder egocentrista do pecado e lhe dar uma vida centrada em Deus.
A cruz é o mais elevado exemplo de entrega e de vida não egoísta. Ele não veio para ser servido, mas para servir. Deixou a sua glória e tornou-se homem, morrendo na cruz por nós, para que pudéssemos ser livres do domínio de nosso próprio pecado egoísta.

Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

Será que Deus levantará em nossos dias este tipo de fé, completamente dominada pela mente de servo? Será que surgirão líderes dispostos a servir e dar a sua vida em favor dos outros?
Leve para sua casa o desejo de mudar as coisas a começar lá. A servirem uns aos outros com amor e se libertarem de uma vez por todas das amarras egocentradas do modelo de dominação do mundo.
Eu quero lhes chamar a orar pela igreja e a buscar manifestar estas qualidades aqui. Investiguemos o nosso coração e busquemos as sombras onde o egocentrismo ainda domina e levemos a luz libertadora da Cruz.
Você deve ter notado, que as duas primeiras partes deste sermão enfocavam o pecado dos homens, mas a última destaca a graça maravilhosa do Senhor.
Jesus sempre dizia: será entregue e sofrerá muitas coisas, mas ao terceiro dia RESSUSCITARÁ! A ressurreição de Jesus é a certeza do crente de que é possível viver para servir e com isso, viver o verdadeiro modelo de Deus.

Oração

Grande Pai, conceda-nos que a Cruz de Cristo nos sirva de modelo para uma vida de serviço e amor. Levanta essa igreja para servir-te!

Amém.



Um comentário:

Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!