O Reino de Deus e as Minhas Lágrimas
1 Samuel 1.1-18
Introdução
Irmãos, a leitura dos livros de Samuel, Rute, Juízes exige uma visão direcionada para a monarquia israelita. Em outras palavras, precisamos lembrar que estes livros estão inseridos nas Escrituras para servirem como pano de fundo para a chegada do período do Reino de Davi, o melhor e mais completo tipo do reinado eterno do Messias.
A história, em geral, é contada a partir de grandes nomes, dos acontecimentos que envolvem os homens e mulheres que se destacam. Mas, nem toda a vida destes homens e mulheres fazem parte dos relatos históricos. Afinal, há muitos dias absolutamente comuns, corriqueiros, que pouco importam quando contamos a história. O próprio Jesus Nazaré, o homem mais importante de toda a história da humanidade, teve dias comuns, dos quais não temos nenhum relato. Alguém, por exemplo, está preocupado com o dia em que o grande Rui Barbosa foi ao dentista pela primeira vez?
Mas estes momentos mais simples, corriqueiros, pouco importantes para os livros de história, ou mesmo a história dos homens mais comuns, dos milhares e milhares de homens e mulheres que foram apenas pequenas figuras, que a maior parte das pessoas não se lembrará dos nomes, mesmos estes pequenos nomes e momentos da vida de alguém tem um valor enorme e a mão poderosa de Deus agindo.
Hanna – AGRACIDADA ou FAVORECIDA – uma mulher atribulada, vivendo seus dramas pessoais, suas frustrações, tristezas, enquanto Deus trabalha no silêncio. Ela não sabia, mas enquanto sua vida atribulada segue o seu curso, Deus estava preparando o caminho do seu Rei, no caso Davi, o homem segundo o coração do Senhor. Esta é uma das mais importantes lições que precisamos aprender com a história desta mulher singular, realmente agraciada, que Deus usou para ser veículo de sua obra graciosa neste mundo.
Ela não sabia que Deus estava usando sua própria tribulação para moldar a história. Ela não podia saber disto, mas estava pronta a reagir de forma correta diante de sua própria tribulação.
Caros irmãos, temos perdido uma grande oportunidade de desfrutar da graça de Deus, quando desprezamos a importância de cada dia da nossa vida e do que Deus está fazendo, por meio das menores e aparentemente mais insignificantes passagens.
A história de Hanna apresenta apenas um drama familiar e pessoal, mas aponta para um Deus, senhor da história, fazendo sua vontade prevalecer e o seu favor chegar aos homens com o surgimento da grande monarquia messiânica, da qual Jesus é o grande alvo.
As lágrimas de Hanna a levaram ao templo. Dali, de uma maneira improvável, a conduziram a uma amizade com o Sacerdote Eli, desta amizade surgiu a possibilidade de uma palavra de incentivo. Deste incentivo, veio uma postura de fé e desta fé, uma decisão: dedicar um filho para ser servo do Senhor e assim Deus trouxe ao centro dos acontecimentos o jovem Samuel, um dos mais respeitados líderes de um momento importantíssimo da mudança da nação israelita em uma monarquia messiânica.
As LAGRIMAS de Hanna foram transformadas na GRAÇA DE DEUS. Caros irmãos, o que devemos ter em nossa mente é que nosso Deus pode estar usando os nossos dias mais com e até o nossos dias mais sofridos para fazer a sua vontade prevalecer e escrever a história da grande obra da redenção.
A Vontade de Deus Nos Leva às Lágrimas Mesmo Que Sejamos Pessoas Leais e Estejamos Cercados de Pessoas Leais
A descrição que temos nos primeiros versículos nos dão levam a atentar para uma família normal daqueles dias, com ingredientes muito positivos, mas que precisavam ser levados às lágrimas porque Deus os queria preparar para usar em sua obra.
Havia um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, dilho de Toú, filho de Zufe, efraimita (1Sm 1.1).
Elcana um homem comum e honrado– o que se destaca no verso 1 é que este homem era um homem comum. O nome Elcana, significa: Deus o Criou ou Deus é o seu possuidor, mas isso só mostra para um fato que todos nós também podemos dizer de nós. Ou seja, Elcana era apenas um homem comum, sem nenhum parentesco com qualquer dos nomes famosos. Contudo, era um homem honrado, que tinha uma postura de marido e homem de fé que pode ser observados nos versos seguintes.
Tinha ele duas mulheres, uma se chamava Ana e a outra Penina. Penina tinha filhos, Ana, porém, não os tinha. Este homem subia da sua cidade de ano em ano a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos, em Silo. Estavam os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, como sacerdotes do Senhor. NO dia em que Elcana oferecia o seu sacrifício, dava ele porções deste a Penina sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas. A Ana, porém, dava porção dupla, porque ele a amava, ainda mesmo que o Senhor a houvesse deixado estéril (1 Sm 1.2-5).
Ele era um homem de vida com Deus e uma atitude muito positiva diante de Ana, que apesar de não ter filhos, não causou no coração do seu marido nenhum tipo de repúdio.
Ana uma mulher de fé e paciência– Quando olhamos para o modo como o texto se refere a Hanna o que podemos notar é que se tratava de uma mulher piedosa, que estava disposta a trazer à sua família alegria e se segurava ao Senhor em suas maiores tristezas. Apesar das provocações de Penina, não vemos uma reclamação de Hanna, mas apenas uma decisão, buscar a solução em Deus.
A sua rival a provocava excessivamente para a irritar; porquanto o Senhor lhe havia cerrado a madre. E assim o fazia de ano em ano; e todas as vezes que Ana subia à Casa do Senhor, a outra a irritava, pelo que chorava e não comia. Então, Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, porque choras? E porque não comes? E porque estás de coração triste? Não te sou eu melhor que dez filhos? (1Sm 1.6-8).
O quadro não é um desenho de revoltas, de lutas, de rixas, de problemas, mas em geral o quadro nos mostra uma família leal que se vira bem com suas dificuldades pessoais e familiares. No entanto, apesar de sua capacidade de lidar bem com as dificuldades e de estar ao lado de homem bom e leal, Hanna é levada às lágrimas, porque Deus quer usar estas lágrimas para leva-la a escolher no futuro um caminho de graça.
Famílias honradas, pessoas leais, quadros de vida boa diante de Deus, piedade cristã verdadeira, estas coisas são muito boas, mas estas coisas não impedirão que Deus nos leve às lágrimas, se ele quiser tais lágrimas para nos conduzir a caminhos melhores. Você precisa considerar suas lágrimas também neste contexto.
Quando a Vontade de Deus Nos Levar às Lágrimas Deixe as Lágrimas te Levarem a Deus
Os versos 9 a 11 focam em Hanna e na sua petição diante de Deus. Enquanto muitos, diante das tribulações se tornam amargos e se afastam de Deus, Hanna procura em Deus um refúgio em meio à tribulação.
Após terem comido e bebido em Silo, estando Eli, o sacerdote, assentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor, levantou-se Ana, e com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente (1Sm 1.9-10).
Levantou-se Hanna e orou ao Senhor – enquanto Elcana aproveitava o momento do sacrifício e a porção que era dada às famílias para comerem, depois da refeição pascal, Hanna se levantara e fora orar. Nesta hora, era o momento em que Penina a irritava e a procurava desestabilizar. A constante tribulação que Penina lhe impunha, levava Hanna à amargura, mas ela buscava o Senhor.
Hanna Chorava abundantemente– a oração não eliminava do coração de Hanna a tristeza, não significava que a oração era para a busca do alívio, ou que ela se refugiava na oração em si. Ao contrário, mesmo orando, ela ainda carregava no coração uma profunda tristeza e um grande peso.
Um detalhe do texto que às vezes nos esquecemos é que isto acontecia de “ano em ano”. Ou seja, possivelmente, alguns anos este caos pessoal se repetia. Imagine com o passar dos anos o quanto isto tudo era pesado e cada vez mais pesado. Muito bem, o que texto tenta nos mostrar era uma mulher que buscava no templo a presença de Deus e estava disposta a pagar o preço de sua luta.
E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor, o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha (1Sm 1.11).
Deus estava moldando o coração de Hanna- As lágrimas de Hanna a levaram a Deus e a levaram a este voto. Não sei como em geral Hanna lidava com sua amargura no templo. Mas desta vez, ela foi conduzida a pensar em dizer algo para Deus. A teologia do pedido de Hanna nos dá um sinal claro da fé que sustentava essa mulher.
Senhor dos Exércitos– Ela sabia para quem estava vivendo e quem lutava por ela. O Senhor dos Exércitos era aquele que estava à frente dos exércitos de Israel e nas grandes lutas do povo havia dado a vitória. Era este o Deus para quem Hanna vivia.
Se benignamente atentares para a aflição e de mim te lembrares – irmãos, o que temos aqui é uma pessoa que esta disposta a se entregar totalmente à vontade de Deus. Ela não impõe nada a Deus, mas suas lágrimas à levam a um Deus que comanda a sua vida. Ela sabe que só a graça de Deus é quem a pode livrar de suas aflições. Ela parece seguir a receita do povo de Deus que estava no Egito, cuja a mensagem de Deus para Moisés é que o Senhor viu a aflição do seu povo e ouviu o seu clamor e se lembrou de Israel. Hanna, a este mesmo Deus orou e dele buscou a graça.
Se me deres um filho eu o darei ao Senhor todos os dias– Hanna sabia que Deus era a fonte de todas as bênçãos e desejou que sua bênção deveria servir ao Senhor. Isso é um ponto que valeria a pena pararmos para pensar muito bem e repensar muito sobre muita coisa que temos pedido e esperado de Deus.
Caros irmãos, as lágrimas levaram Hanna a Deus e não a si mesma. O Deus ao qual as suas lágrimas a levaram era um Deus vivo, verdadeiro, gracioso e Senhor de todas as coisas. Hanna conhecia bem o Deus a quem buscava.
Meus irmãos, no final de tudo o que importa é o modo como nossas lágrimas nos levam a Deus, mas o quanto estamos dispostos a encontrar somente Deus nas nossas bênçãos.
A Vontade de Deus Nos Leva às Lágrimas e nos Ajudam a Encontrar a Esperança
O Reino de Deus virá sobre nós por meio de uma história que Deus está realizando em nosso dia a dia. Hanna não sabia, mas Deus estava trabalhando enquanto suas dores estavam desestabilizando o seu coração e suas tristezas a levaram à oração e à buscar a Deus. Deus estava preparando o seu coração para entregar a sua benção para servir ao próprio Deus.
Demorando-se ela no orar perante o Senhor, passou, Eli a observar-lhe o movimento dos lábios, porquanto Hanna só no coração falava seus lábios se moviam, porém não se lhe ouvia voz nenhuma, por isso, Eli a teve por embriagada. E lhe disse: até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti esse vinho (1Sm 1.12-14).
Meus irmãos, o mistério do que Deus está fazendo através dos eventos da nossa história de vida é algo escondido, às vezes de todos até dos que estão ao nosso redor. O próprio Eli não sabia o que estava acontecendo.
Não se ouvia a voz de Hanna– precisamos muito prestar atenção neste comportamento de Hanna. Humildemente buscava em Deus refúgio para a sua tristeza. Ela não precisou gritar ou se desesperar diante de Deus, apenas derramar em silêncio e segredo o seu coração diante do Pai.
Porém Hanna respondeu: Não senhor meu! Eu sou mulher atribulada de espirito, não bebi nem vinho nem bebida forte, porem tenho derramado a minha alma perante o Senhor. Não tenhais, pois, a tua serva por filha de Belial; porque pelo excesso de minha ansiedade e da minha aflição é que tenho falado até agora (1Sm 1.15-16).
Mulher atribulada e tenho derramado minha alma perante o Senhor– meus irmãos aqui estamos diante de alguém que busca sua saída no Senhor. Ela não foi compreendida pelo próprio Eli e isso não foi um motivo de desestimulo, pelo contrário, ela tinha clara para si sua situação e o Deus em quem buscava alguma esperança. A ansiedade e a aflição a conduziu a Deus e nele agora ela esperava o tempo todo.
Então, lhe respondeu Eli. Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste. E disse ela: Ache a tua serva mercê diante de ti. Assim, a mulher se foi seu caminho e comeu, e o seu semblante não era triste (1Sm 1.17-18).
Uma mudança na cena de Hanna é muito clara nestes versos finais. Eli percebeu o que aquela mulher atribulada estava buscando e deu-lhe uma palavra de incentivo. Esta palavra de incentivo, mudou a feição do seu momento e sua própria face. Descansar em Deus renovou a sua esperança.
Nossas lágrimas deveriam sempre nos levar a Deus e Deus nos levar à vida cheia de esperança. Precisamos muito saber que vivemos debaixo das mãos de um Deus vivo que não se esquece de nós, que não nos abandona e que agora mesmo, enquanto tantas são as suas lágrimas está te moldando e fazendo o seu coração se inclinar para ele.
Conclusão
Na prática é assim que o Reino de Deus vai se formando na nossa história, por meio dos eventos mais simples e por isso, cada dia conta, cada pequena parte do dia conta. Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito.
De alguma maneira, cada dia que Hanna foi ao templo, culminou em um dia em que o seu coração fez um voto. Cada uma das vezes que Penina a irritava colaborou para que ela chegasse a pensar em devolver a sua benção para servir a Deus. Cada vez que seu marido foi compreensivo fazia parte da construção do dia em que ela decidiu que Deus seria a sua esperança.
Meus irmãos, este tipo de crente é o que faz realmente a diferença neste mundo. Gente que não está preocupada em grandes acontecimentos da fé, mas que dá atenção aos pequenos momentos.
Outro ponto, não deixe as tristezas te levarem para longe de Deus, isso não é bom e não é sábio. Deixe suas lágrimas te conduzirem a Deus! Deixe que Deus seja alcançado no seu coração, por meio de tudo o que ele pode fazer mesmo em dias difíceis.
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