10 de março de 2019

Mateus 9.9-13

Por que Jesus Escolheu Estar Com Aqueles Que Todos Sabem Que São Pecadores?
(Culto da Noite – Março – IPT)
Mateus 9.10-13

Foco da Nossa Condição Decaída
Nem sempre estamos dispostos a perceber realmente que somos pecadores. Claro que o admitimos, não tem como não fazê-lo, contudo, estamos muito longe de perceber o quão evidente está para Cristo que somos pecadores. Por isso, muitas vezes, nosso juízo dos outros e dos seus pecados, são sempre tão duros. Este texto nos desafia a olhar com mais cuidado sobre quem realmente somos e como Cristo nos vê, além de nos exortar a viver de forma misericordiosa, no que tange a olhar para os outros pecadores. 

Introdução
Tive o privilégio de trabalhar por alguns anos com um dos meus professores mais marcantes: Rev. Heber Carlos de Campos. Ele me ensinou muitas coisas no seminário, mas sem dúvida alguma, pastorear ao seu lado foi um aprendizado ainda maior. 
Dr. Heber tinha ousadia incomum na pregação e uma segurança teológica invejável. Fazia afirmações contundentes com certeza absoluta do que estava dizendo, porque tinha uma mente teológica muito, mas muito organizada. Por isso, suas retumbantes afirmações, quase sempre nos espantava de duas formas: primeiro, por se tratar sempre de afirmações muito provocantes; segundo, porque ao final, todos sabíamos que ele iria nos mostrar como a Escritura, de fato nos desafiava a crer em coisas tão profundas. 
Uma destas retumbantes afirmações marcou a minha mente e a de muitos irmãos e irmãs que conviveram com o Dr. Heber nos dias de sua permanência como pastor em Vila Formosa: “Deus escolheu amar porcaria!”Ele sempre dizia que Deus tinha uma preferencia por coisas estragadas! Bem, claro que inicialmente isto choca, mas logo compreendemos que Rev. Heber se referia ao fato de Deus ter escolhido amar pecadores, inclusive, eu, dizia Dr. Heber para exemplificar e esclarecer do que se tratava aquela afirmação. 
O texto que temos diante de nós, também contém este desafio ao nosso entendimento. A escolha primordial de Cristo é estar com pecadores, especialmente aqueles que todos sabem que são pecadores. 
Mateus nos oferece este texto como um grande desafio, porque ele próprio, Mateus está entre estes publicanos e pecadores que se assentaram com Jesus algumas vezes para a refeição e preciosas conversas. 
Claro que esse gesto de Jesus daria o que falar para os fariseus que se julgavam homens acima de qualquer suspeita e sequer se creditavam pecadores como os demais homens: 
Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? (Mateus 9.11). 
Esta noite, esta será a nossa pergunta também! Também iremos pedir a Deus que nos mostre em sua Palavra essas razões especiais de Jesus para escolher preferencialmente estar com pecadores tão evidentes. Creio que eu e os irmãos estamos cientes de que somos pecadores, mas com certeza, o texto está falando de pessoas que ainda mais claramente se evidenciavam pecadoras. Essa escolha de Jesus de ter com eles tão íntima comunhão deve ser um ponto desafiador para nós. Não somente para também nos mostrarmos mais claramente prontos a acolher os pecadores, mas também para nos avaliarmos sobre quem realmente somos e porque Cristo nos escolheu para compartilhar seu pão.
Tenha duas posturas diante deste texto que nos lê essa noite: a primeira, a coragem para também encontrar razões para você estar com pecadores evidentes, seguindo a obra de Jesus; segundo, tenha a também coragem para se perguntar: Jesus também quer se sentar comigo? 
Jesus Escolheu Estar Com os Que Todos Sabem Que São Pecadores Para Expor os Pecados Daqueles Que Se Acham Perfeitos Demais
Naturalmente, o texto que temos diante de nós expõe nossas fragilidades e deficiências com muita precisão. Ele é introduzido por uma cena simples, mas profundamente relevante para este Evangelho: 
Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu (Mateus 9.9). 
O próprio Mateus era um publicano, que dali foi para sua casa e convidou Jesus para ir com ele, bem como, muitos daqueles que com ele dividiam a pecha de serem homens de má reputação, por serem coletores de impostos. 
E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos. Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? (Mateus 9.10-11). 
Estando ele em casa – muitos publicanos e pecadores vieram – Mateus vai para sua casa e logo as pessoas que se encaixavam no seu tipo social se aproximaram. Jesus não perguntou a Mateus nada sobre a sua vida, mas ele sabia quem era. Jesus apenas lhe fez o convite: bem e segue-me e Mateus o seguiu. A realidade de Mateus era a de um homem estigmatizado pelo fato de ser considerado um traidor do seu povo. Trabalhava na coletoria, isto implicava em que seus patrícios o viam com desdém, porque trabalhava para os romanos. Também era considerado um homem de uma profissão onda havia muita corrupção. Ele vivia do problema dos outros. O texto classifica Mateus no conjunto de pessoas depreciadas no meio mais social: os publicanos e os pecadores.
Claro que a associação entre publicanos e pecadores no texto existe para fazer um contraste com os fariseus que entram em cena logo em seguida. Mas vamos nos deter nesse conjunto: o conjunto dos depreciados. Evidentemente, eles são depreciados e colocados em uma classificação negativa, pelo motivo simples: eles realmente eram reconhecidos pelos pecados que cometiam. Jesus, entretanto, escolhe este grupo para ser sua companhia preferencial neste momento e Mateus está nos mostrando isto propositadamente, logo após a sua chamada, para se incluir claramente na história. O ponto é que Jesus escolheu estar com aqueles reconhecidamente pecadores para expor o pecado daqueles que se achavam puros e perfeitos. 
Estando à mesa muitos publicanos e pecadores tomaram lugares – vendo isto os fariseus perguntavam– claro que este é o ponto deste texto, a comparação entre estes dois grupos. O primeiro, reconhecidamente pecador e repudiado e o segundo, reconhecidamente religioso e de boa reputação. Propositadamente, o texto nos coloca o quadro destes dois grupos e podemos logo perceber que à mesa com Jesus estão os reconhecidamente pecadores. Embora no contexto social os publicanos e pecadores estivessem abaixo na escala de importância, na situação presente, estão eles em condição privilegiada. 
Parece-me correto aplicar aquilo que o apóstolo Paulo falou: 
E Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são (1 Coríntios 1.28).
Este é um ponto importante: Deus escolhe estar com pecadores reconhecidos para fazer os que ainda se pensam perfeitos sejam humilhados na sua falsa pretensão de perfeição. 
Por que o seu Mestre come com publicanos e pecadores- Muito possivelmente os fariseus estaria dispostos estar àquela mesa com o Mestre, o Rabi. Eles davam a Jesus essa deferência, mas não poderiam se associar aos pecadores e aos publicanos. Acredito que estariam à mesa com ele, se um fariseu, respeitado o tivesse convidado e não houvesse tanta gente pecadora sentada ali, se associando ao grupo. 
No evangelho de Mateus, os escribas e fariseus estão constantemente tentando provar que Jesus não deveria se associar a pessoas ruins. Eles questionavam Jesus se realmente conhecia e praticava a lei (Mateus 12.1-2); as vezes, perguntam às pessoas porque Jesus faz o que faz, acusando-o de fazer obras pelo poder do Diabo (Mateus 12.24); outros momentos eles falavam com o próprio Jesus sobre os seus discípulos, acusando-os de pecados (Mateus 15.2). 
Aqui, mais uma vez o que temos é uma repetição deste comportamento de julgamento dos outros, sempre de uma postura de auto justiça e admissão de perfeição pessoal. O problema dos fariseus neste texto é que sua postura de julgamento contra os outros, sempre os deixaram longe de Cristo. 
Publicanos e pecadores com Jesus – fariseus fora– este é o ponto que precisamos pensar seriamente. Quando nossa posição é de autojustiça e nenhuma misericórdia com o outro, temos a tendência de nos impor um juízo ainda maior que aquele que estabelecemos contra os outros, o juízo de voluntariamente ficarmos longe de Cristo Jesus. 
Infelizmente, isto é mais comum do que possa parecer. Muitos irmãos ficam longe de uma vida de comunhão com Cristo por preferirem a condição de juiz dos seus irmãos. O problema com os fariseus neste texto e em todo o Evangelho de Mateus é que eles não conseguiam perceber que sua atitude de falta de misericórdia e de amor para com o próximo era um pecado tão grave e tão danoso quanto qualquer outro. Eles não conseguiam perceber que estavam perdendo tempo, fazendo juízo dos seus irmãos, quando deveriam ter a atitude mais simples: confiar no Mestre e deixar ele fazer a obra nos publicanos. Eles deveriam agir como Mateus: DEIXAR TUDO E SEGUIR. 
Você consegue entender o quanto isto pode se sobre você também? Pois, bem, não perca tempo! 
Jesus Escolheu Estar Com os Que Todos Sabem Que São Pecadores Porque Estes São os Que Realmente Precisam
Como podemos perceber, o problema mais grave dos Fariseus era o fato deles não se perceberem pecadores. Isto é o que realmente os afastava de Cristo. Agora, no verso 12, Jesus irá usar um provérbio de sua época para definir sua relação com os publicanos e pecadores. 
Mas, Jesus, ouvindo, disse: Os são não precisam de médico e sim os doentes (Mateus 9.12). 
Sem dúvida alguma, o que o texto nos leva a refletir tem dois lado: o primeiro, o lado de quem não sabe que está doente e, portanto, não sabe que precisa do médico; e o lado de quem está doente e precisa que o médico esteja com ele. Vamos a este último primeiro. 
E sim os doentes– Jesus estava com os publicanos e pecadores, que sabiam que se encaixavam na categoria: doentes. Mateus é quem está escrevendo sobre isto e, portanto, ele sabia muito bem o que estava acontecendo e de quem e por que Jesus estava usando aquela linguagem. 
Quando Mateus deixou a coletoria imediatamente e seguiu Jesus, sabia que deveria estar com aquele que lhe abriria uma nova opção de vida. Ele certamente estava ciente de que sua vida não poderia continuar do jeito e na direção em que estava. Ele precisava que algo lhe acontecesse e aconteceu: Jesus. 
Quando pecadores se reconhecem pecadores, Jesus está sempre pronto a estar lá, oferecendo-lhe o refrigério e a vida nova que precisamos. Deixar o pecado e seguir a Cristo é optar pela luz e deixar as trevas. Sem dúvida, muitas vezes é necessária uma coragem e desprendimento que nem sempre estamos dispostos a oferecer. Mas, no caso de Mateus, ele abraçou a sua chance de uma vida nova e foi imediatamente. 
Os são não precisam de médico- O segundo olhar deste verso é para o outro grupo de pessoas, as que não querem admitir sua enfermidade do coração e da alma. Por orgulho, por simples insensatez ou por qualquer outro motivo, o ponto central não é que de fato estas pessoas estejam sãs, o problema é que não querem admitir a própria enfermidade. Paulo falou a respeito disto, usando uma outra temática de expressão:
Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer (Romanos 3.10-11). 
O problema de muitas pessoas é que seu orgulho ou a sua insensatez não lhe permitem ver o óbvio: que sua vida não é completa, que sua estrada é trevosa e que sua jornada está na direção errada. Estas pessoas se permitem manter-se no erro e fazem questão de contar para si mesmas a própria mentira: estou sadio e não preciso de médico. De nenhuma forma isto lhe fará bem! 
Jesus ouvindo disse – Este dado do verso é importante tanto quanto o final do verso. Ele mostra que Jesus está interessado em que os Fariseus façam uma profunda reflexão, tanto quanto está interessado em que os Publicanos e pecadores saibam o que está acontecendo ali.
Publicanos e pecadores precisam saber que estão sendo acolhidos por alguém que está disposto a tratar suas enfermidades. Fariseus precisavam saber que ali estava alguém que estava dispostos a recebe-los para se assentarem à mesa e já estava começando o tratamento, mostrando-lhes o diagnóstico de sua enfermidade espiritual. 
Mais tarde, Mateus registra que um chefe da sinagoga, chamado Jairo, procura Jesus para que sua filha seja curada e este homem recebe do Mestre o amor e o cuidado que sua filha precisava, assim como o seu coração. Um homem da sinagoga, cheio de fé em Cristo Jesus, o médico. 
Meus irmãos este tema é muito importante para todos nós, porque todos somos acometidos pela doença do pecado. Quando menos esperamos ela vem novamente com seus terríveis efeitos, nos colocando longe da paz e em trevas novamente. Precisamos sempre que o médico esteja perto e o próprio médico já é o remédio e a própria cura. Todos precisamos saber que estamos doentes e não devemos jamais perder isto de vista.
Jesus Escolheu Estar Com os Que Todos Sabem Que São Pecadores Para Nos Ensinar o Grande Valor da Misericórdia a Mesma Que Nos Alcançou
O Reino de Cristo é um Reino construído pelo perdão gracioso que é dado aos filhos de Deus. Porque, na verdade, todos somos pecadores. Jesus, o único homem que não pecou, deu a vida por nós e nos fez filhos de Deus, servos do Reino. 
Mateus, o publicano, com uma propriedade muito grande era um discípulo que sabe o valor da misericórdia. Sua posição de antigo publicano, agora o levava a pensar sobre o que realmente estava acontecendo ali no seu chamado à fé. 
Aqui, no verso 13 Jesus conclama a todos a que aprendamos o valor da misericórdia:
Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, pois não vim chamar justos e sim pecadores ao arrependimento (Mateus 9.13). 
Ele está se referindo ao profeta Oséias e este texto será novamente citado em Mateus 12.7. e é preciso saber que a misericórdia é um valor que aprendemos, especialmente, quando aprendemos que também fomos alvos da própria misericórdia de Deus. 
Aprendei o que significa– sem uma percepção clara de que foi por misericórdia que fomos resgatados, afinal, Deus deixou de nos dar o que merecíamos e nos acolheu em sua família, sem essa ideia clara de que fomos chamados ao reino por misericórdia seria mais difícil para nós o aprendizado, mas é importante que aprendamos e estejamos consciente de que a mesma misericórdia com que fomos tratados devemos tratar os outros. 
Misericórdia e não holocaustos– a Deus não se serve mostrando nossos valores, mas reconhecendo nossa pobreza. No seu reino não servimos por aquilo que temos a oferecer, mas recebendo do senhor o perdão sem nada dele merecer. Assim também devemos aprender a receber nossos irmãos, sem desejar que eles sejam perfeitos porque não o somos também. 
Não justos mas pecadores ao arrependimento– Jesus escolheu estar com aqueles que reconhecidamente pecadores para nos mostrar o que é a misericórdia que nos foi oferecida e nos fazer cientes de que nosso pecado foi vencido pelo seu grande e absoluto amor. Eu e você precisamos entender quem realmente somos como pecadores, para realmente compreendermos o que fazemos aqui e por que estamos aqui. 
Ele estava pronto a dar a sua vida, mesmo sendo nós pecadores e isso revela o quanto nossa fé precisa ser humilde e quebrantada. Esse é um valor que dará sentido a atos de profundo arrependimento. 

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