10 de março de 2019

1 Coríntios 13.1-13

O Amor Como Fator de Excelência da Vida
(Culto da Manhã – Março 2019 – IP Tatuapé)
1 Coríntios 13.1-13

Foco da Nossa Condição Decaída
O amor como aquela virtude que reveste o nosso viver da excelência do Reino de Cristo e como o fator que realmente revela nossa ligação com Pai é o que Paulo apresenta neste texto e nos conclama a buscar. A imaturidade e consequentemente carnalidade geram problemas e a falta de conformação da Igreja com se real chamado para ser o Reino de Cristo na terra. Este texto nos chama a rever os alvos existenciais e a própria vida em si e permitir introduzir na sua vida o fator de mudança e excelência do amor, que nos une a Deus e nos dá senso de eternidade.

Introdução
Quando Paulo decidiu escrever esta carta à Igreja de Corinto, sua preocupação com eles é que estavam confundindo suas capacitações em termos de dons com verdadeira espiritualidade. Eles não haviam compreendido o Evangelho no seu âmago e não haviam se dado conta de que receberam o Evangelho como crianças e não amadureceram espiritualmente. Eles estavam vivendo em contendas e buscavam seus próprios interesses e um, desejando sobressair-se mais que o outro. 
Paulo identifica estas fragilidades e lança-lhes um grande desafio de revisão pessoal. Ele os conclama a um processo de mudança, que só se iria operar caso trouxessem para sua experiência de vida um fator de excelência da vida cristã: o amor. 
Ele vê o amor como fator de transformação imprescindível. Ele vê o amor como a virtude mais significativa do Reino de Cristo. Para Paulo, como o próprio texto nos ensina: O AMOR É A VIRTUDE QUE DÁ SENTIDO A TODAS AS AÇÕES VIRTUOSAS; O AMOR É O QUE TORNA O HOMEM DE DEUS CAPAZ DE VENCER AS MAIORES DIFICULDADES DA VIDA; O AMOR É O SINAL MAIS CLARO DA MATURIDADE CRISTÃ.
Este texto é introduzido na carta por uma frase: 
E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente (1 Coríntios 12.31b).
Para essa sobre-excelência do amor é que somos chamados! Para este padrão de maturidade cristã e de sentido verdadeiro da vida é que somos convocados a mostrar neste mundo. O que precisamos não é vencer as pessoas, precisamos amá-las. Elas não precisam reconhecer as nossas capacidades, precisam receber o nosso amor. Quero convidar você a deixar a Escritura ler seu coração e te dizer o que é necessário para que você também seja assim transformado e conduzido à essa condição de sobre-excelência pelo amor.  

O Amor é o Fator Que Dá Verdadeiro Sentido a Todas as Virtudes e Obras da Vida Cristã
Esse ponto parece ser facilmente identificado nos três primeiros versos desta passagem. Todos os três são introduzidos pela expressão: ainda que... Claramente a intenção de Paulo não é desqualificar as práticas positivas que ele levanta, mas colocar o desafio de perceber que toda a vida virtuosa, para se preencher de verdadeiro significado do ponto de vista de quem serve ao Reino de Cristo, precisa ser uma ação revestida e transformada pelo fator de sobre-excelência: o amor.
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o do de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que eu entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará (Atos 9.36-37). 
Ainda que...– A estrutura que Paulo deu a estes parágrafos é bem simples e propõe uma reflexão sobre elevadas obras virtuosas e o seu real significado diante de Deus e de Cristo. Ele sempre termina o pensamento com a ideia de vazio. Paulo está convidando as mentes a perceberem que sua busca vivencial pode estar completamente equivocada, por estar baseada em promover sua vontade e não a de fazer a vontade de Deus. 
Este é o ponto que muitos de nós erramos, porque caminhamos com as virtudes e a obras virtuosas e não percebemos que essa nossa vida é completamente destituída de significado, por isso, certamente, é que tão comumente estamos tão entediados com a vida cristã. Tentando nos convencer de algo que é, em si vazio e insistindo e auto afirmar nossas virtudes, quando nos falta o principal. 
Se não tiver amor– toda a construção dos parágrafos é baseada nessa proposição: E NÃO TIVER AMOR. Ter aqui não é a simples posse de algo, mas o ser tomado por aquilo que dizemos possuir. Paulo está dizendo que nessas ações virtuosas o que realmente vale não é a ação em si, mas o que nos motiva, o que realmente estamos fazendo quando fazemos tudo o que está descrito.
Ainda que FALE A LÍNGUA DOS HOMENS E DOS ANJOS, se não tiver amor– isso será somente barulho. Pode ser fato sua capacidade, mas ela não constrói valores com Deus e no reino de Cristo. Claro que Paulo está trabalhando com categorias que lhe pareceu mostrar aos crentes de Corinto claramente onde estavam errando. Por isso, precisamos pensar sobre os nossos termos atuais e propor reflexão semelhante sobre o vazio de ações que, em si, são virtuosas, mas que nada possuem de verdadeira construção se ela não nos leva ao alvo: O REINO DO AMOR. 
Paulo, no capítulo 3, alertou os crentes de Corinto a edificarem vidas com coisas de valor, para que nossas ações sejam aprovadas no escrutínio e juízo de Deus. 
O vazio - bronze que soa; címbalo que retine; nada serei; nada aproveita –algumas expressões tem sempre o objetivo de nos mostrar o vazio de virtudes que não nos levam à real vontade de Deus: construir em nossa vida e através de nós: o seu Reino de amor. Paulo está propondo um sistema de valoração da vida que não está baseada na percepção do valor material do que fazemos, mas um sistema que busca encontrar nas motivações mais profundas o verdadeiro valor e no Reino de Cristo, sobretudo, o fundamento motivacional é AMAR.
Eu não tenho dúvida de que este é o problema mais central do Cristianismo também em nossos dias, ou seja, nós perdemos o foco e o sentido real de nossa vida cristã e nos permitimos a uma espécie de sentimento de auto satisfação com a miséria de uma vida sem sentido, um cristianismo pobre que nós pintamos de ouro, para esconder a fraqueza e a podridão de nossos corações. Infelizmente, mais comum do que gostaríamos, mas precisamos encarar com coragem, é o fato de que em boa parte das vezes, nós vivemos da aparência de cristianismo, de frases prontas, de atos mecânicos e o mais especial não buscamos. Nem sabemos realmente o que é amar, porque preferimos viver desamando. Vazio completo é o que Paulo diz que é essa vida assim. Antes de passar ao outro ponto, pensemos também sobre aquilo que Jesus disse: QUAL O VALOR DE AMAR SÓ OS QUE NOS AMAM?
O Amor é o Fator Que Dá Verdadeira Força Espiritual Para Vencer as Dificuldades da Vida
Os versos 4 a 7 forjam uma estrutura desafiadora, ele parece desejar fazer-nos pensar sobre o modo como o AMOR NOS FORNECE FIBRA PARA VENCER AS DIFICULDADES DA VIDA. 
O amor visto do ponto de vista afirmativo – O AMOR É...
O amor visto do ponto de vista negativo – O AMOR NÃO É...
O amor visto do ponto de vista afirmativo novamente – O AMOR É...  
O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor é: paciente, benigno– Aqui Paulo fala do amor definindo de duas formas. Primeiro ele nos fala do amor em sua capacidade de saber suportar as intempéries da vida. Segundo, ele fala do amor na sua capacidade de nos fazer lutar contra as intempéries da vida, uma vez que a paciência é reativa e a benignidade ativa. 
Uma pessoa pronta para a vida precisa ser capaz de agir nestes dois tons em relação às dificuldades próprias da vida. Pessoas infantis, sem fibra vivencial, não conseguem lutar para mudanças, muito menos receber os baques. Em geral, nestes casos, as pessoas partem para ferir as outras e a tentar provar o quanto os outros são ruins. 
Aqui estamos diante de uma convocação à reflexão sobre o fato de que o amor é este fator de  força que nos ajuda a receber golpes e resistir, ao mesmo tempo que nos fortalece para ação transformadora. 
O amor não: arde em ciúme, se ufana, ensoberbece, conduz inconvenientemente, não procura seus próprios interesses, exaspera, ressente do mal, não se alegra com a injustiça– Toda essa descrição do que o amor não é e não produz apontam para reações às dificuldades da vida que são uma espécie de autoproteção enganosa. Uma espécie de cortina de fumaça para nossa infantilidade existêncial e nossa pouca disposição à maturidade real.
Todos estes “não” do amor são um modo de Paulo dizer o seguinte: se você faz isto, você não sabe o que é o amor de Cristo que deve fluir em nossa vida e marcar a nossa capacidade de viver em um mundo caído, como filhos da luz que vão ser agentes de transformação.
O amor é: regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta– o amor aqui é pronto para lutar, para receber pancadas e permanecer em pé, para saber virar o jogo e trazer à realidade o que realmente deveria ser. O amor sabe esperar o momento certo e tem paciência para suportar até que esse momento chegue. 
Irmãos isso é muito sério, porque o imediatismo da nossa sociedade e o mimaditismo com que estamos nos acostumando a ser tratados com excesso de cuidados, ninguém pode fazer nada que já nos ofendemos, estão interferindo em nossa real capacidade de viver. Paulo está nos dizendo que o amor supera toda essa super fragilidade e nos ajuda a esperar o momento certo em que Deus irá revelar quem nos somos. Seja mais pronto para esse padrão de vida, pense bem sobre isso.
O amor é o fator que dá verdadeiramente uma capacidade sobre-excelente para vencer as dificuldades da vida.  
O Amor é o Fator Que Dá Verdadeiro Andamento ao Processo de Amadurecimento Vivencial
Aqui, neste trecho final, Paulo contrasta a perenidade e firmeza do amor com a fugacidade e fragilidade da vida imatura. Ele divide essa argumentação em duas partes, na minha maneira de ver: O amor perene em contraste com valores que são passageiros; e o amor agindo em mim conferindo qualidades de maturidade que me fazem permanecer firme e pronto para servir ao Reino de Cristo. 
O amar jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado (1 Coríntios 13.8-10). 
O amor jamais acaba – o que é em parte será aniquilado– veja que estas duas expressões do início e do final do trecho dão o tom do contraste. Amadurecimento é o ato de passar pelo tempo e atingir as qualidades próprias que a natureza potencialmente pode nos conferir. O homem maduro é aquele que consegue passar pela vida e no momento certo atingir o ápice de todas as potencialidades que sua natureza humana lhe possibilita desenvolver. 
Havendo – cessará, passará, desaparecerá- O amor aqui é aquela virtude que amadurecida se torna firme e constante e não sujeita às intempéries. Todas as demais, são qualificadas no texto como passageiras. Claro que por algum momento, as profecias, a ciência, as línguas tão preciosas para os coríntios, recebem o seu protagonismo, mas pessoas maduras não estão interessadas em valores que dão protagonismo passageiro, estão interessadas em coisas que produzem estabilidade. É a diferença que Paulo tratou no capitulo 3, entre: ouro, prata, bronze – feno, palha, madeira. 
Quando vier o que é perfeito– Paulo propõe o futuro como o momento em que o amor realmente se revelará o caminho sobremodo excelente. NO sentido de que devemos abandonar o imediatismo e desejar a perenidade que se constrói com o tempo. Ele diz: quando vier o que é perfeito – claramente apontando para o fato de que ainda não veio, mas virá. Aqui, ele usa expressões que dão dois pesos à afirmação: quando vier – propõe o futuro, como já dissemos, mas também propõe a certeza, ele virá. 
Do conceitual, Paulo parte para o prático e direto: 
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino, quando cheguei a ser homem, desisti da coisas próprias de menino. Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente, então, veremos face à face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor (1 Coríntios 13.11-13). 
Quando eu era menino – quando cheguei a ser homem– o objetivo de Paulo não é comunicar aos meninos para lhes dar umas palmadas. Ele deseja lhes comunicar para que desejem muito ser homens completos. O objetivo de Paulo é que todos cheguemos à esta estatura de varões perfeitos. Ele saiu do conceituial e foi para o direto e prático porque o objetivo dele não é fazer um tratado filosófico sobre o amor, o objetivo dele é que os crentes percebam e busquem o amor como o caminho para sua vida.
Fazia coisas de menino – desisti das coisas de menino– Paulo está dizendo que devemos buscar as coisas próprias da vida adulta com Deus, da maturidade cristã e deixar a vida infantil. Este é sem dúvida um desafio, mas uma necessidade que não podemos perder de vista. Enquanto ficamos brincando com os brinquedos da fé dos meninos, pessoas estão morrendo e nós estamos aqui, sem anda fazer. 
Agora e depois– uma coisa própria da infantilidade espiritual é a incapacidade de vislumbrar o que ainda está por vir. Porque os meninos estão preocupados com a brincadeira que podem ver agora, mas é próprio das pessoas amadurecidas ter o olhar no futuro e nas possibilidades da chegada à algum lugar. 
Conhecerei como sou conhecido- Num determinado momento da história, Paulo diz que amor e toda a luta dele para fazer a diferença e ser um fator de transformação e conformação ao Reino terá valido a pena. Este é o ponto mais alto da nossa maturidade com Cristo: ELE NOS MOSTRARÁ REALMENTE QUEM ELE É EM NÓS. 
Estes três – porém o maior é o amor– é sempre muito difícil interpretar essa frase. Mas acredito que podemos compreender que Paulo está nos dizendo que o amor é o fator transformador primordial que dá sentido à nossa fé, que nos faz olhar adiante com esperança. O amor é maior porque é ele quem permeia tudo e nos prepara realmente para tudo. 
O AMOR É O FATOR DE AMADURECIMENTO DA VIDA CRISTÃ QUE MAIS DEVE SER DESEJADO E BUSCADO.   
Conclusão
Um texto como este não deve ser lido como uma crítica, mas como uma chamada e um incentivo a que eu e você desejemos isso. Irmãos, precisamos com a máxima urgência rever realmente o nosso processo de amadurecimento na vida cristã. 
Precisamos viver em amor e fazer do amor um modo de vida, que nos empurre a um viver mais consistente. Toda essa atual fragilidade da igreja é uma triste revelação da nossa imaturidade e nossa egocentricidade exagerada. 
O amor é aquele fator que nos empurra a viver para fora de nós mesmos. Faz com que o crente não viva para si e deseje espalhar o reino de Cristo. Precisamos deste amor para nos fazer parar de reclamar, de ver os defeitos dos outros, de impor condições tão impróprias para que a nossa vontade seja feita. 
Caros irmãos, temos de estar prontos para sofrer as intempéries da vida e servir como pessoas de transformação. Para isso, precisamos dar verdadeiro sentido às nossas ações práticas. Não em busca de sermos mimados, mas de agirmos como verdadeiros filhos amadurecidos, que não buscam na fé cristã uma brincadeira de criança para se divertir, mas entende com seriedade que o Reino de Cristo está vindo sobre nós e já está aqui. Que nosso encontro com ele será o momento culminante da nossa realidade e seriamente enfrentaremos aquele dia com a consciência de alguém que seguiu o perfeito caminho.  

Oração
Senhor ensina-me amar como Cristo te amou e me amou! 

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