Da Manjedoura à Cruz – O Caminho da Morte Para a Vida
(Culto da Manhã – Dezembro 2019 – IP Tatuapé)
Romanos 6.20-23
Foco da Nossa Condição Decaída
Precisamos considerar bastante o fato de que o nascimento e a morte, a manjedoura e a cruz, são temas interligados não somente da vida de Cristo, mas de todos os cristãos. Nosso texto é um convite bíblico ao nascer e morrer espirituais que todo crente tem de vivenciar para que possa desfrutar de uma relação de vida eterna com Deus.
Introdução
Considerando as realidades bíblicas da manjedoura e da cruz, facilmente notamos alguns pontos de contato indissociáveis:
A manjedoura foi o primeiro lugar onde o Cristo deu os seus primeiros suspiros para o mundo, na Cruz ele expirou pela última vez. Na manjedoura, o Rei dos Judeus, esperado por muitos, permanecia desconhecido dos homens, na Cruz fora pregado, com a intenção de ser esquecido. A manjedoura não era um lugar digno para Jesus, a cruz também não. Ele escolheu fazer a vontade do Pai e veio para a manjedoura, também, pelo mesmo motivo, foi para cruz. A manjedoura aponta para a Redenção dos homens, a cruz da mesma forma.
Não podemos afastar a história da manjedoura, da história da cruz. Uma, na outra, ganha precioso sentido. Precisamos que esta história seja vista por completo, afinal o nascer e o morrer devem ser vistos como movimentos que também nós precisamos aprender a realizar. Jesus falou-nos: “importa-vos nascer de novo” (João 3.7); e também nos disse: “quem perder a vida, por minha causa, salva-la-á” (Lucas 9.24). Desta forma, a vida Cristã, assim como a de Cristo, precisa dos movimentos do nascer e do morrer.
Nosso texto desta manhã nos convida a esta reflexão de uma maneira diferente, pois nos chama a pensar em como a morte é vencida pela vida, mas para ganhar a vida é preciso morrer. Este é um ponto que dará à vida cristã nova dinâmica e dará a todo o que crer uma experimentação viva do Evangelho.
O Caminho da Morte Para Vida Começa a Ser Trilhado Quando Reconhecemos a Morte em Nosso Viver
As plantas um dia foram semente! Para que pudessem se tornar em uma planta, ganhar folhas e frutos, tiveram que cumprir o papel da semente, que é morrer, murchar e se abrir para que de dentro dela, viesse à luz uma planta. Inicialmente uma pequena e frágil vida, começa como uma delgada ramagem, que se ergue em meio à morte da semente, libertando-se para ser uma planta.
Essa é uma bela ilustração da vida cristã que, para nos levar a vida, precisa passar pela experiência de aprendermos a morrer. Jesus havia nos dito que se quisermos segui-lo teríamos de aprender a estrada da morte para a vida: quem perder a vida acha-la-á.
Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais, porque o fim delas é morte (Romanos 6.20-21).
Quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça – um dos maiores problemas para quem comete crimes é a sensação da impunidade, isto é, um falso senso de segurança que parece nascer da falta de punição aparente, o que leva o criminoso a não perceber e vivenciar a gravidade do seu delito. Essa é a mais eficiente ferramenta do pecado para nos aprisionar, isto é, nos fazer pensar que somos livres e que estamos bem, estando escravos e condenados.
Não é incomum que pessoas pensem de si mesmas de forma muito positiva e não percebam a real situação de sua alma, que se entrega à morte e não consegue desfrutar da vida. Não percebem ou não querem perceber como sua vida está aprisionada na morte. É deste sentimento que Paulo está falando, que havia sido uma maneira com que os crentes de Roma levavam a vida, até que perceberam a Lei de Cristo. Veja, que ele diz, que eles viviam como se a justiça não lhes imputasse nenhuma ofensa, nada ruim. Eles não percebiam que diante de Deus suas vidas estavam condenadas e vazias, suas alegrias passageiras e sua falsa felicidade não conseguiriam dar conta da sua realidade espiritual.
Que resultado colhestes? Somente as coisas de que, vos envergonhais - o apóstolo conduz a consciência dos seus leitores para pensarem de forma prática para a vida sob o governo do pecado, portanto sem Cristo. Ele argumenta com eles que se forem perceber o que haviam vivido sob aquelas condições, agora que viviam à luz do Evangelho fica claro que era um caminho de morte, cujas obras agora eles se envergonhavam delas.
Porque o fim delas é morte – exatamente o caminho de morte que Salomão fala sobre as escolhas do homem sem Deus. Aqui, estamos vendo o tema da morte na sua face mais triste: a morte da vida sem Deus, a falta de vida na vida. Este é um ponto que precisamos considerar atentamente, que a vida sem Cristo é um vazio existencial que nos conduz a um tipo de vida que só produz morte em nossa jornada.
Naquele tempo – Paulo está falando a crentes e não para ímpios, qual é o valor desta exortação? Por que está dizendo estas coisas? Ele começou sua fala dizendo “naquele tempo”, ou seja, já era passado na vida deles, de que serviria lembrar aqueles dias? Este é o ponto, Paulo está levando a crentes a refletirem sobre o fato de que muitas vezes, por diversos fatores, querermos viver como antes, abandonando nosso primeiro amor e nossa lealdade à santidade de Cristo. Por isso, este capítulo é uma profunda exortação a não vivermos como antes, quando éramos escravos do pecado, mas nos dispormos a uma estrada crescente no caminho da santidade e da vida que seja digna de Cristo Jesus.
Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? (Romanos 6.2).
Sem dúvida a morte e a vida são temas que se aproximam. A estrada que nos leva da morte para a vida carrega também este paradoxo: a consciência de que é preciso morrer para este mundo, para viver para Deus (Romanos 6.11).
O Caminho da Morte Para Vida Nos Leva a Vivenciar Um Processo de Transformação da Morte em Vida Por Meio da Santificação
Crentes não podem se esquecer nunca de que sua nova vida em Cristo não é conquistada por méritos deles, por suas obras ou por seu conhecimento; mas a nova vida precisa ser revelada ao mundo nos frutos que permanecem para a eternidade. Em outras palavras, a vida cristã não se resume aos rituais que praticamos, mas é evidenciada no nosso novo modo de pensar a existência e de desfrutá-la. Uma nova maneira de enxergar todas as coisas.
Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, e tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna (Romanos 6.22).
Agora, porém, libertados do pecado – o tema da prisão do pecado preenche todo o capítulo 6. Neste tema, Paulo trata da importante consciência que precisamos ter de que o termômetro mais claro de nossa nova vida em Cristo são os impulsos que controlam as nossas preferências, escolhas, sentimentos e ações. Ele faz um contraponto ao verso anterior e diz que AGORA, isto é, na realidade, no momento em que Paulo lhes escreve, eles precisam ter consciência da sua NOVA CONDIÇÃO EM CRISTO. Por isso, ele provoca a ideia da LIBERDADE do PECADO.
Transformados em servos de Deus – ele tratou deste tema nos versos 12 a 14 e os exorta a perceber este domínio do pecado sobre a sua vida. Algumas vezes, nos tornamos servos voluntários do pecado, deixando com que as inclinações pecaminosas da carne nos controlem e nos façam viver em um nível de escravos do pecado. Paulo usa a palavra (doulothentes) que não significa apenas que eles agora estavam só numa nova situação, mas tinham recebido uma “nova natureza”, um “novo estado existencial”, agora eram “SERVOS POR NATUREZA” DE DEUS. Isso é importante que consideremos em nossa caminhada cristã: A NOSSA JORNADA EM CRISTO É UMA MUDANÇA DE NATUREZA, na nossa condição humana, não só pertencemos a Deus, mas fomos feitos pertencentes a Ele, esse é o nosso novo nascimento, nossa nova vida.
Tendes o vosso fruto para a santificação e por vim a vida eterna – como resultado dessa nova natureza do nosso serviço, precisamos lembrar que nossos frutos devem revelar essa nova seiva que corre em nossos corações, que irriga a nossa existência. Por isso, este é o melhor termômetro para a nossa vida em Cristo. Paulo, fala em santificação, no processo que deve culminar com a eternidade. Então, há um progresso que precisamos cultivar e buscar, que não podemos negligênciar. A manjedoura é a vida para nós, mas é preciso morrer para que essa nova vida nasça realmente em quem somos, traduzindo-se na realidade de como somos.
O Caminho da Morte Para Vida é Uma Estrada Que Nos Faz Viver a Eternidade Como Fruto da Graça
A eternidade é um dos temas que dominam este ponto do texto. Aliás, Paulo considera que a “vida eterna” é o alvo que direciona todos os atos da redenção, como ele próprio escreveu em Romanos 8.30. Um pensamento sobre o que é a vida eterna e como ela pode ser desfrutada aqui, servindo como bússola para o cristão é a GRAÇA, da qual essa vida eterna prometida é resultado.
Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 6.23).
O salário do pecado é a morte – Mais uma vez é preciso pensar na vida, a partir da morte, na redenção a partir da condenação. Paulo deixa claro que o resultado do pecado é uma vida na sombra e no domínio da morte. É necessário considerar nosso estado de morte em contraste com a nova vida que Deus nos dá.
Do gratuito é a vida eterna – essa nova vida é fruto da graça e este é um ponto central a ser considerado, porque a realidade da graça e da misericórdia de Deus para conosco é o ponto central da nossa experiência na vida eterna.
O próprio vale do pecado em que a humanidade caiu é, no final de todas as contas, um modo de Deus nos revelar a sua graça. No capítulo anterior ele disse que ONDE ABUNDOU O PECADO, SUPERABUNDOU A GRAÇA. No capítulo 9 ele diz que por causa da nossa salvação ele revela a sua glória em vasos de misericórdia, PORQUE ELE QUIS MOSTRAR ESSA GRAÇA.
A manjedoura e a cruz compõem uma única estrada que nos leva à vida na graça. Ambos pontos revelam a graça eterna de Deus, revelada em Cristo e na sua liberdade de se entregar por nós e de nos dar a vida, na sua morte. Quando aprendemos morrer para viver, ou aprendemos a viver morrendo, aprendemos que tudo nos vem pela graça que há em Cristo Jesus, que nos dá nova vida e vida eterna com o Senhor.
Conclusão
Precisamos aprender a investir vida na nossa vida. Precisamos conseguir nos libertar das amarras do pecado, que não são necessariamente e somente as coisas impuras, imorais e desleais que fazemos neste mundo, mas um modo de vida que não é direcionado para a eternidade.
A melhor maneira desta vida se manifestar é direcionando nossas preferências, escolhas, palavras, hábitos para a eternidade, procurando realizar tudo aquilo que coopera para que este Reino Eterno se manifeste entre nós, através de nós.
Vivemos para aquele que nos comprou e nos deu nova vida. Neste Natal, precisamos considerar que é tempo de liberdade, de vida e de aprender a morrer para o mundo e viver para Deus.
Oração
Da-me uma estrada que honre ao teu nome e mostra-me como viver para ti!
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