As Implicações do Preço Pago na
Cruz
(mensagem entregue em no Culto da Paixão do Presbitério Leste Paulistano da IPI do Brasil - março 2013)
INTRODUÇÃO
Não
precisamos gastar muito texto para convencer aos nossos leitores sobre a
decrepitude do Evangelho em nossos dias. Todos somos testemunhas de como a vida
dos crentes, em geral, desceu a padrões mínimos de cristianismo e, muitas
vezes, até mesmo a condições que sequer podemos classificar como cristianismo.
Noutros
tempos, cristãos evangélicos se distinguiam facilmente no meio da sociedade,
nos lugares onde viviam. Hoje, infelizmente, pouco se sabe da pessoa se o que
sabemos é que se trata de um crente, um evangélico.
Curiosamente,
este é o tempo em que a palavra “avivamento” se tornou popular e, há quem
afirme ter conseguido a fórmula para produzi-lo. Disto decorre os inúmeros
cartazes que nos chegam com convites para o próximo “Congresso de Avivamento”
que sua igreja não pode perder.
Será
que as Igrejas evangélicas brasileiras perderam o rumo definitivamente? Estamos
no vestíbulo da morte do cristianismo evangélico no Brasil? Não podemos pensar
assim!
Para
mim, esta é a grande oportunidade para igrejas históricas como as nossas. Pois,
sinto que temos algo a dizer e apresentar que serve de um contraponto ao modelo
desgastado, do evangelicalismo centrado no homem, carregado pelo vício
consumista, que vê os bens simbólicos da fé apenas como uma moeda de troca.
Mas,
antes de nos apresentarmos para ser esta opção cristã e evangélica, precisamos
produzir uma grande reflexão sobre quem somos e quem devemos ser enquanto
Igreja comprada pelo sangue de Cristo.
Ser
Igreja Comprada Pelo Precioso Sangue de Cristo é ter compromisso com uma agenda
espiritual e não terreal é ser chamado a viver em um paradigma que escapa à
simples materialidade do existir para produzir um tipo de cristão comprometido
com a eternidade, com uma fé que aponta para muito além de nós mesmos.
Contextualização – preâmbulo da carta
Quando
Pedro escreveu esta carta de encorajamento ao povo de Deus, muitos cristãos
estavam se perguntando sobre a veracidade das promessas de um Reino Eterno e da
volta de Jesus. Alguns, por causa das violentas perseguições, a esta altura,
especialmente por parte dos judeus, já estavam se perguntando se o cristianismo
era algo realmente bom para se seguir.
Ele,
por conta de todas estas incertezas que abatiam o coração dos crentes e que os
fazia regredir no seu compromisso com o Reino inabalável de Cristo, produziu
uma carta, com o objetivo de lhes mostrar uma agenda de vida, que faz com que a
Igreja vivesse acima da realidade que a cerca.
Acredito
irmãos, que cristãos verdadeiros são pessoas chamadas para viver o paradigma de
dois mundos. Somos peregrinos neste mundo, com o compromisso de deixar por aqui
o legado de pessoas que viveram paradigmas mais elevados.
Quando
a Igreja se torna mundana no sentido de viver somente para este mundo, ela
perdeu o referencial. Neste caso, não importa quanto sucesso ela tenha na
mídia, em termos de público ou riquezas materiais, ela não passa de um monte de
circunstâncias passageiras. O grande desafio que temos como Igrejas
comprometidas com a Palavra do Reino Inabalável de Cristo é apresentar ao
mundo, não uma instituição diferente, mas homens e mulheres capazes de viver no
paradigma da mundanidade celestial, ou seja, homens que vivem para o eterno, o
celestial, inseridos efetivamente no mundo.
Acredito
que esta carta de Pedro se insere neste tipo de perspectiva. Em particular,
gosto de sempre destacar os primeiros versos, onde ele aponta para nossa
herança incorruptível. Ele a denomina como que “reservada nos céus”. Por outro
lado, essa herança é reservada para pessoas que “são guardadas” para ela,
enquanto peregrinam aqui na terra.
Este
olhar para o que é eterno é o ponto de segurança que deve mover a igreja aqui
na terra. Assim, ele pode conclamar os crentes perseguidos daqueles dias a
exultarem, mesmo em meio a tantas tristezas que acontecem por aqui.
O
texto que separamos para nossa meditação esta manhã é parte deste capítulo
conceitual que exprime esse nosso duplo paradigma existencial: neste mundo, com
compromisso com o eterno.
Portanto,
temos a enorme responsabilidade de servir de janela da eternidade santa para os
demais homens. Por isso, devemos crescer e amadurecer a nossa fé, perseverando
em tudo, mantendo exemplar o nosso procedimento.
Os
versos 17 a 21 são uma porção deste maravilhoso preâmbulo da carta. Toda a
verdade destes poucos versos gira em torno de um fato que se deve saber: não fomos comprados mediante coisas
corruptíveis, como prata ou ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo.
Esta
cláusula central dá significado a todo o parágrafo que começa no verso 17. Ela
é central e centralizadora das ações. É esta cláusula que, para Pedro, define a
necessidade de todas as afirmações ao redor. Então, caros irmãos, eu vos convido
a considerarem comigo as implicações práticas do sangue de Cristo que foi
derramado como preço em favor da Igreja. Eu vos convido a considerarem de forma
séria, o que Deus espera de sua igreja como resposta a tão elevado preço que
pagou por nós.
O Preço Pago na Cruz Deve Nos Conduzir a Um Modelo de Vida Baseado na Nossa Relação de Filiação Com Deus
Meus irmãos, como já disse antes, nossa tarefa não está concentrada em criarmos uma instituição perfeita. Nossa tarefa primordial é a de forjar, na bigorna da Palavra de Deus, sob o fogo das provações desta vida, homens e mulheres que sejam capazes de mostrar Cristo ao mundo, por meio do caráter, conduta e testemunho.
Ainda
que seja muito oportuno, que nossas instituições sejam uma demonstração clara
da ordem do Reino de Cristo. Antes, elas devem ser um reflexo do tipo de
pessoas que as compõem. Portanto, é preciso que os crentes sejam transformados
e as instituições sejam resultados desta transformação.
Pedro
não trata do assunto do ponto de vista institucional, ele trata a Igreja do
ponto de vista orgânico, como Corpo de Cristo, como Família de Deus, daí no
verso 17, ele introduzir a questão chave:
Se
invocais como Pai aquele que sem acepção de pessoas julga segundo as obras de
cada um, portai-vos com temor e tremor durante o tempo da vossa peregrinação,
sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que
fostes resgastados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas
pelo precioso sangue, como de Cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de
Cristo...
Vocês
podem perceber que o verso 17 gira em torno dos versos 18 e 19, uma vez que o
termo “sabendo” funciona como um cláusula conclusiva “uma vez que vocês sabem
isto...”.
Discernimento
é uma das palavras importantes a serem aplicadas na vida do crente. O
discernimento é o produto da avaliação do pensamento, que nos leva a distinguir
as realidades. Meus amados irmãos, Pedro está chamando os crentes à discernirem
que são filhos de Deus e têm com ele um compromisso filial.
Se invocais por Pai aquele
que... – evidentemente, o
cristão que vive com discernimento não pode se limitar a simplesmente
considerar a existência de Deus e saber que ele tem um plano de salvação para a
sua vida. O cristão verdadeiro é comprometido com Deus em um sentido muito mais
profundo. É disto que Pedro fala nos versos anteriores: Sede santos, por que eu (Deus) sou santo.
Pedro
está apenas concluindo que o modo de vida do cristão é um fruto decorrente do
sangue derramado, do preço pelo qual ele foi comprado. Quando nos aproximamos
da cruz o que devemos encontrar nela? Devemos encontrar na Cruz os motivos
certos para continuarmos a viver como Filhos de Deus neste mundo caído, durante
o tempo da nossa peregrinação.
Outro
aspecto que Pedro trabalha no verso 17 é a questão de que não podemos viver de
forma neutra, como se não tivéssemos ligação alguma com Deus, justamente por
que Deus não trata a nossa vida como se fosse neutra. Ao contrário, Pedro diz
que ele julga nossa vida.
Portanto,
o discernimento a que somos concitados é o de que nossa relação com Deus é
prioritária para a nossa vida aqui na terra e deve determinar todo o nosso
procedimento.
Antes
de produzirmos bons frequentadores assíduos da casa de Deus, precisamos
urgentemente de homens e mulheres que honrem o nome do seu Pai pelo tipo de
vida de levam. Receio que tenhamos de constatar que os crentes perderam o
sentido de vida que leva em conta o que significa: temer a Deus.
O Preço Pago na Cruz Deve Nos Conduzir a Um Modelo de Vida Que Seja Distinto Dos Homens Mundanos
Charles H. Spurgeon disse: "A igreja deve atrair pela diferença e não pela igualdade". Evidentemente este não é o lema de muitos crentes em nossos dias. Mas este era um ponto cardeal da igreja nos dias de Pedro.
O
apóstolo, como já vimos no verso 17, identifica o caminhar peregrino da igreja neste
mundo como a maior demonstração da sua ligação com Deus. Agora, no verso 18 ele
vai pontua de uma outra forma sobre o mesmo assunto, enfatizando o fato de que
andar como o mundo é andar como não resgatado.
O
tipo de homem e mulher que devemos produzir neste mundo é aquele que tem discernimento
de que foi resgatado de um modo de vida que totalmente desonra ao Criador. Mais
uma vez, o conhecimento do preço pago na cruz deve nos conduzir a discernir,
agora a discernir quem éramos e o que devemos ser.
Sabendo
que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram.
Evidentemente,
esta expressão “fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais
vos legaram” está em contraste com o temor que se requer no tempo da
peregrinação dos que tem uma relação de filhos com Deus.
Acredito
que devemos considerar de forma mais atenta que a redenção que nos foi ofertada
no sangue de Cristo, tinha como propósito fundamental nos retirar de um modelo
de vida que nos afastava de Deus. Ainda se permitir viver em um modelo mundano
de vida é a mais grotesca manifestação de apatia para com Deus. Um crente
jamais deveria sentir qualquer alegria em qualquer coisa que apenas o fizesse
mais parecido com um filho de Adão que com o filho eterno de Deus.
O fútil procedimento – é um termo que podemos considerar
correspondente ao termo “vaidade” em Eclesiastes. Um modelo de vida não centrado
em Deus e sim no homem e em suas paixões. E isso podemos encontrar ainda mais
explícito no verso 14, onde Pedro diz que filhos da obediência não podem se
amoldar a paixões mundanas.
Portanto,
filhos de Deus, devem discernir o valor que foi pago por sua vida e que foram
resgatados de se parecerem com o mundo.
Isto
não significa que não podemos ter amigos que sejam ímpios, mas de forma alguma
podemos compactuar com as obras infrutíferas das trevas, seja qual for o
motivo, lazer, trabalho, socialização... nada combina com a Igreja que foi
comprada na cruz.
O Preço Pago na Cruz Deve Nos Conduzir a Um Modelo de Vida Baseado Em Valores Eternos
Outro grande homem de Deus foi Jonathan Edwards. Certa vez ele disse: “sela a eternidade sobre os meus olhos”. Homens de Deus peregrinam com vistas à eternidade. Os valores eternos são os nossos verdadeiros valores.
Conquanto
encontremo-nos em meio a tantas demonstrações da presença do pecado, devemos
almejar e buscar a todo custo, um modelo de vida que represente a vindoura
perfeita humanidade que foi iniciada no derramar do precioso sangue de Jesus.
Com
o derramar de seu sangue, ele nos fez “sacerdócio
real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamarmos
as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Tenho
certeza de que estas palavras são preciosas para todos os irmãos!
O
texto diz que desde a eternidade, este era o plano do Senhor que foi manifesto
na história da Cruz, por amor de nós: que Deus, por meio da morte de seu filho
nos daria toda a esperança de que precisamos para seguir em frente.
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