27 de março de 2013

Mateus 26. 26 a 30


Lições da Noite de Páscoa
O Legado da Cruz Para a Vida no Reino

INTRODUÇÃO
Pouco antes de receber a visita dos guardas, que acompanhavam Judas que o traía, entregando-o às autoridades para ser morto, Jesus está com seus discípulos, no mesmo local onde comera antes a Páscoa com eles. Agora, entretanto, enquanto ainda comiam, ele se dirige a eles e lhes reparte o pão e o vinho e lhes diz: isto é o meu corpo, isto é o meu sangue.
Este momento tornou-se peculiarmente importante para toda a história da Igreja Cristã, pois aqui, o Senhor instituía a observância do sacramento da ceia. As suas palavras de instituição da santa ceia foram registradas também pelos evangelistas Lucas e Marcos, no entanto, na versão que encontramos registrada em Mateus tiramos lições muito específicas com as quais podemos aprender um pouco mais sobre o Reino de Deus.
Sendo Mateus o Evangelho que focalizou o Reino de Deus como uma das mais importantes mensagens a ser transmitida aos cristãos de todas as eras e em todos os lugares, sua visão do Reino, também na instituição da Ceia, é uma maneira peculiar de pensar a respeito deste precioso sacramento.
O verso 29, to trecho destacado para hoje, nos dão conta de que, este sacramento seria observado até a volta de Jesus, como uma espécie de antecipação da grande e gloriosa bênção que nos será concedida no encontro final, quando, novamente cearemos juntos com Cristo, no Reino de seu Pai.
A Santa Ceia é um anúncio, um sinal visível da graça invisível do Reino, uma espécie de janela, por meio da qual, podemos observar as preciosidades do Reino de Deus, do seu Reino Santo.
Desejo olhar para este texto esta noite e aprender valores que transcendem as possibilidades meramente humanas. Desejo aprender valores do Reino Eterno e Perfeito de Deus. Desejo também discernir que é possível, ainda neste mundo, viver sob a égide do que é eterno e me posicionar como quem olha além do que a visão pode alcançar.
Acredito que a Santa Ceia lança este tipo de olhar e desafio sobre a nossa vida. Viver, segundo os ensinos da Santa Ceia, a verdadeira Páscoa libertadora, é estabelecer um novo modo de vida, sob a sombra da Cruz.

Entrega Sacrificial e Voluntária a Deus
Um famoso quadro de um rafaelita, chamado Holman Hunt, retrata um dia em que o jovem Jesus estava na carpintaria de seu pai e, enquanto o sol entrava pela janela da carpintaria, projeta sua sombra sobra a parede do fundo da carpintaria. A imagem que se formava na soma da sombra projetada, com os cavaletes de madeira colocados na parede era a da crucificação. O pintor procurou mostrar que a vida de Jesus passou-se sob a sombra da cruz que haveria de carregar no dia de sua morte.
Quando chegamos aos versos 26, 27 e 28, no momento em que Jesus reparte o pão e o vinho, ele conclui sua atitude dizendo: tomai e comei, tomai e bebei, isto é o meu corpo, é o meu sangue... derramado em favor de muitos para remissão de pecados.
Jesus estava apontando para o fato de que ele estava sendo entregue. Entrega por amor, entregue em favor... Com estas palavras, Jesus estava encarnando o seu próprio ensino que nos chamava a viver em resignação da própria vida: negue-se a si mesmo, tome a tua cruz e siga-me!
Em um tempo onde as pessoas vivem cada vez mais para si mesmas, precisamos resgatar esta teologia da entrega. A Cruz nos deixa um legado para o modo como devemos viver no Reino de Cristo, devemos viver na perspectiva de viver para os outros e, sobretudo, viver para Deus.
Voltamos o olhar para a Igreja em nossos dias e o que vemos? Pessoas buscando o seu interesse, procurando ser agradadas, esperando ser servidas. Quem estender a mão para a mesa da ceia e não estiver disposto a viver na perspectiva da entrega está em desacordo com o que o próprio sacramento ensina. Esta mesa aponta para a cruz onde Cristo entregou a sua vida por nós.  

Disposição Para a Comunhão
Quando Cristo entregou a sua vida por nós, em sua alma, uma satisfação dominava: a alegria de saber qual seria o precioso fruto penoso de seu trabalho. Jesus sabia que sua cruz seria a única forma de nos congregar eternamente na família de Deus.
Entregue em favor de muitos – com estas palavras Jesus definia sua percepção da comunhão que estava propondo em sua morte expiatória, por isto insistiu: tomai e comei dele todos.
A nossa comunhão é um presente de Deus. Nos sacramentos da graça, o batismo e a santa ceia, não somos nós que ministramos, somos ministrados. Nós não nos batizamos, apenas recebemos simbolicamente o batismo que nos foi ofertado pelo Espírito de Deus, da mesma sorte a Santa Ceia nos é dada, é Cristo quem no-la dá!
Não repartimos o nosso pão, mas o pão que Ele nos deu e o vinho que ele repartiu. Jesus nos concedeu a unidade do seu corpo. A Igreja é o Corpo de Cristo, porque Cristo nos deu este privilégio.
Ao repartir com os discípulos o seu corpo e o seu sangue e pedir que eles se apropriassem daquilo pelo ato de comer e beber, Jesus estava unindo seus discípulos à sua cruz. Aquele era um ato de comunhão, um chamado à vida comunal.
Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque, nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão (1 Coríntios 10.17).
A noite da Páscoa de Cristo apontava para a Cruz e esta para a nossa comunhão. O Reino de Deus é o Reino da Comunhão daqueles que foram crucificados com Cristo. Este sacramento é o sacramento da comunhão do Corpo.
Quando pessoas se negam a vivenciar essa comunhão, não somente estão em desacordo com o sacramente, estão pecando contra o Corpo. Não podemos tomar destes elementos se não for nosso propósito o viver em amor comunal.
Acredito que as palavras de Paulo à igreja de Corinto, dentro de todas as implicações dos problemas que ocorriam naquela igreja, apontavam seriamente para pensarmos sobre a importância da comunhão como prerrogativa da Mesa do Senhor:
Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor... pois, quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si (1 Coríntios 11.27 a 29).
A Cruz deixa sobre a Igreja de Cristo o legado da comunhão. A disposição para vencer barreiras e amarmos uns aos outros é uma das mais preciosas bênçãos que a nossa nova natureza em Cristo nos oferece.

Uma Vida Cheia de Esperança e Alegria
Mesmo que para muitos em Jerusalém a cruz tenha significado o fim das esperanças e a chegada da tristeza. Na verdade, o legado da cruz vem no sentido contrário e proporciona para todos os que creem esperança e alegria.
Jesus distribuiu o pão e vinho com palavras de entrega sacrificial, chamando-os para comungarem da sua morte. Estas eram palavras tristes, apontavam para um momento sombrio. Mas, Jesus não permite que a tristeza assuma toda a direção daquela conversa.
Jesus introduz uma nova visão nos seus corações. Ele os convoca a pensar no futuro, para o tempo em que o Reino se tornar pleno, pois vão novamente cear com Jesus.
E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei o fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai (verso 29)
Jesus conduz seus discípulos a perceberem que a sua morte não seria o final da história. Esta palavra, na verdade, naquele momento não fora compreendida por seus discípulos, mas depois após a sua ressurreição uma mar de esperança inundou o coração dos seus discípulos.
Precisamos olhar para o futuro! Precisamos esperar muito mais do que apenas o que vemos e vivemos aqui. A Cruz é a certeza de um futuro para nós. O texto diz que ele ceará “conosco” e que o dia se aproximará.
Foi assim que a Igreja Cristã venceu todos os períodos históricos, olhando para o futuro e mantendo sua fé, esperança e alegria na volta gloriosa de Cristo.
O cristianismo consiste e bíblico não é uma fé depressiva, ou de pessoas imediatistas e materialistas, cujos únicos valores que importam são os passageiros valores terrenos. Este tipo de pensamento é tão anticristão quanto qualquer outra adoração a um deus estranho.
A Cruz nos legou a capacidade de esperar em Cristo. A Cruz, sobretudo o túmulo vazio nos legou a capacidade de sentir o consolo que vem da vitória certa do Senhor. Na noite daquela ceia, estas palavras de conforto de Jesus traziam a esperança para a mesa da tristeza e esta esperança era o que haveria de permanecer.
A Necessidade da Ação
Uma das preciosas lições daquela noite é esta: a Cruz era um ato intencional e proativo. Jesus não ficara à mercê dos acontecimentos, mas estava disposto a seguir da direção da cruz.
O verso 30, nos informa que ele canta um hino com seus discípulos e se põe na direção do lugar onde será preso, o Monte das Oliveiras.
Em, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras (verso 30)
Mais à frente, Mateus nos informa que Jesus sabia exatamente o que estava fazendo e que deveria realmente estar ali, afinal esperava Judas com sua turba para o prender:
Então, voltou para os discípulos e lhes disse: ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores. Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima (versos 45 e 46).
Precisamos aprender com estas atitudes de Jesus que a nossa fé deve nos levar a estar no lugar e hora necessários, mesmo que para tanto tenhamos de sofrer.
É muito imaturo da parte de alguns cristãos deixarem a sua fé se tornar em um marasmo de passividade e pouca produtividade. Ao contrário, a santa ceia não deve ser um sacramento que nos instigue à morosidade, ao contrário, ao reafirmarmos nossas convicções na entrega, comunhão e esperança é muitíssimo importante que nossas ações reflitam o caráter desta nossa fé.
A Cruz lança sobre nós o legado do agir. Os que a compreendem não podem ser tornar passivos neste mundo, mas devem procurar intrepidamente o espaço onde a marca da cruz possa fazer a diferença.
A igreja, a comunidade da cruz, a comunhão dos que foram crucificados com Cristo tem de se manifestar neste mundo. Este legado recebemos de Jesus em sua morte por nós. Somos a luz do mundo, o sal da terra e isto porque ele deu a sua vida por nós.
O viver que temos hoje na carne (como disse o apóstolo) vivemos pela fé em Cristo, que deu a sua vida por nós. Repita isto todos os dias para si mesmo, relembre a cruz e trabalhe neste reino.
Naquela noite, Cristo estava promovendo um chamado que se tornaria ainda mais concreto no Pentecostes: a igreja deveria ir e testemunhar de Cristo. Tomar da mesa da ceia sem ter o desejo de testemunhar é uma contradição com Cristo.

Conclusão
Evidentemente, muitas destas lições só foram compreendidas pelos discípulos depois da ressurreição e outras somente após a ascensão de Cristo.
Mas o que aprenderam, conferiu-lhes um sendo de entrega pelo reino, que os levou a enfrentar as maiores vicissitudes por amor a Cristo e em nome do estandarte da cruz.
Eles, por aprenderem as lições da cruz e receberem com fervor o seu legado, trabalharam arduamente, e as páginas do Novo Testamento comprovam, pela unidade da Igreja de Cristo.
Eles viveram os seus dias cheios de esperança e isto os levou a mudar o mundo de então. Saíram a testemunhar de Cristo, às vezes, com o preço da própria vida, pois descobriram que a sua pátria não era neste mundo, mas um Reino Celestial, no qual habitam o paz e a justiça.
O mesmo Reino inabalável que todos nós aguardamos.

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Querida igreja!
Este tipo de fé precisa ser visto também entre nós. Sei que Deus ainda levantará homens e mulheres com o calibre certo para terem a Cruz como a sua bandeira e receberem consistentemente o seu legado.
Pensem sobre suas vidas e sobre o este sacramento que estamos para dele tomar. Olhem e vejam a cruz e os seus compromissos com o Reino de Cristo. Pense proativamente em viver para glória de Cristo.
Pense na entrega que fará, o preço que estarás disposta a pagar por sua entrega. Pense na comunhão que deve ser um dos lemas mais preciosos do nosso convívio, pense em como você pode participar da construção desta comunhão.
Reflita também sobre a esperança do seu chamamento e o compromisso de ser um agente da esperança neste mundo. Uma igreja sem esperança é uma igreja morta. Assim também o é, uma igreja que vive apenas para si mesma.
Nosso chamado é para proclamar as virtudes daquele que, pela cruz, nos chamou ao Reino da luz.
Em Cristo
Rev. José Mauricio Passos Nepomuceno

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