Lições da Noite de Páscoa
O Legado da Cruz Para a Vida no
Reino
INTRODUÇÃO
Pouco
antes de receber a visita dos guardas, que acompanhavam Judas que o traía,
entregando-o às autoridades para ser morto, Jesus está com seus discípulos, no
mesmo local onde comera antes a Páscoa com eles. Agora, entretanto, enquanto
ainda comiam, ele se dirige a eles e lhes reparte o pão e o vinho e lhes diz: isto é o meu corpo, isto é o meu sangue.
Este
momento tornou-se peculiarmente importante para toda a história da Igreja
Cristã, pois aqui, o Senhor instituía a observância do sacramento da ceia. As
suas palavras de instituição da santa ceia foram registradas também pelos
evangelistas Lucas e Marcos, no entanto, na versão que encontramos registrada
em Mateus tiramos lições muito específicas com as quais podemos aprender um
pouco mais sobre o Reino de Deus.
Sendo
Mateus o Evangelho que focalizou o Reino de Deus como uma das mais importantes
mensagens a ser transmitida aos cristãos de todas as eras e em todos os
lugares, sua visão do Reino, também na instituição da Ceia, é uma maneira
peculiar de pensar a respeito deste precioso sacramento.
O
verso 29, to trecho destacado para hoje, nos dão conta de que, este sacramento
seria observado até a volta de Jesus, como uma espécie de antecipação da grande
e gloriosa bênção que nos será concedida no encontro final, quando, novamente
cearemos juntos com Cristo, no Reino de seu Pai.
A
Santa Ceia é um anúncio, um sinal visível da graça invisível do Reino, uma
espécie de janela, por meio da qual, podemos observar as preciosidades do Reino
de Deus, do seu Reino Santo.
Desejo
olhar para este texto esta noite e aprender valores que transcendem as
possibilidades meramente humanas. Desejo aprender valores do Reino Eterno e
Perfeito de Deus. Desejo também discernir que é possível, ainda neste mundo,
viver sob a égide do que é eterno e me posicionar como quem olha além do que a
visão pode alcançar.
Acredito
que a Santa Ceia lança este tipo de olhar e desafio sobre a nossa vida. Viver,
segundo os ensinos da Santa Ceia, a verdadeira Páscoa libertadora, é
estabelecer um novo modo de vida, sob a sombra da Cruz.
Entrega
Sacrificial e Voluntária a Deus
Um
famoso quadro de um rafaelita, chamado Holman Hunt, retrata um dia em que o
jovem Jesus estava na carpintaria de seu pai e, enquanto o sol entrava pela
janela da carpintaria, projeta sua sombra sobra a parede do fundo da
carpintaria. A imagem que se formava na soma da sombra projetada, com os
cavaletes de madeira colocados na parede era a da crucificação. O pintor
procurou mostrar que a vida de Jesus passou-se sob a sombra da cruz que haveria
de carregar no dia de sua morte.
Quando
chegamos aos versos 26, 27 e 28, no momento em que Jesus reparte o pão e o
vinho, ele conclui sua atitude dizendo: tomai e comei, tomai e bebei, isto é o
meu corpo, é o meu sangue... derramado em favor de muitos para remissão de
pecados.
Jesus
estava apontando para o fato de que ele estava sendo entregue. Entrega por
amor, entregue em favor... Com estas palavras, Jesus estava encarnando o seu
próprio ensino que nos chamava a viver em resignação da própria vida: negue-se a si mesmo, tome a tua cruz e
siga-me!
Em
um tempo onde as pessoas vivem cada vez mais para si mesmas, precisamos
resgatar esta teologia da entrega. A Cruz nos deixa um legado para o modo como
devemos viver no Reino de Cristo, devemos viver na perspectiva de viver para os
outros e, sobretudo, viver para Deus.
Voltamos
o olhar para a Igreja em nossos dias e o que vemos? Pessoas buscando o seu
interesse, procurando ser agradadas, esperando ser servidas. Quem estender a mão para a mesa da ceia e
não estiver disposto a viver na perspectiva da entrega está em desacordo com o
que o próprio sacramento ensina. Esta mesa aponta para a cruz onde Cristo
entregou a sua vida por nós.
Disposição
Para a Comunhão
Quando
Cristo entregou a sua vida por nós, em sua alma, uma satisfação dominava: a alegria
de saber qual seria o precioso fruto penoso de seu trabalho. Jesus sabia que
sua cruz seria a única forma de nos congregar eternamente na família de Deus.
Entregue
em favor de muitos – com estas palavras Jesus definia sua percepção da comunhão
que estava propondo em sua morte expiatória, por isto insistiu: tomai e comei
dele todos.
A
nossa comunhão é um presente de Deus. Nos sacramentos da graça, o batismo e a
santa ceia, não somos nós que ministramos, somos ministrados. Nós não nos
batizamos, apenas recebemos simbolicamente o batismo que nos foi ofertado pelo
Espírito de Deus, da mesma sorte a Santa Ceia nos é dada, é Cristo quem no-la
dá!
Não
repartimos o nosso pão, mas o pão que Ele nos deu e o vinho que ele repartiu.
Jesus nos concedeu a unidade do seu corpo. A Igreja é o Corpo de Cristo, porque
Cristo nos deu este privilégio.
Ao
repartir com os discípulos o seu corpo e o seu sangue e pedir que eles se
apropriassem daquilo pelo ato de comer e beber, Jesus estava unindo seus
discípulos à sua cruz. Aquele era um ato de comunhão, um chamado à vida
comunal.
Porventura,
o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão
que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque, nós, embora muitos,
somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão (1
Coríntios 10.17).
A
noite da Páscoa de Cristo apontava para a Cruz e esta para a nossa comunhão. O
Reino de Deus é o Reino da Comunhão daqueles que foram crucificados com Cristo.
Este sacramento é o sacramento da comunhão do Corpo.
Quando
pessoas se negam a vivenciar essa comunhão, não somente estão em desacordo com
o sacramente, estão pecando contra o Corpo. Não podemos tomar destes elementos se não for nosso propósito o viver
em amor comunal.
Acredito
que as palavras de Paulo à igreja de Corinto, dentro de todas as implicações
dos problemas que ocorriam naquela igreja, apontavam seriamente para pensarmos
sobre a importância da comunhão como prerrogativa da Mesa do Senhor:
Por
isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será
réu do corpo e do sangue do Senhor... pois, quem come e bebe sem discernir o
corpo, come e bebe juízo para si (1 Coríntios 11.27 a 29).
A
Cruz deixa sobre a Igreja de Cristo o legado da comunhão. A disposição para vencer
barreiras e amarmos uns aos outros é uma das mais preciosas bênçãos que a nossa
nova natureza em Cristo nos oferece.
Uma
Vida Cheia de Esperança e Alegria
Mesmo
que para muitos em Jerusalém a cruz tenha significado o fim das esperanças e a
chegada da tristeza. Na verdade, o legado da cruz vem no sentido contrário e
proporciona para todos os que creem esperança e alegria.
Jesus
distribuiu o pão e vinho com palavras de entrega sacrificial, chamando-os para
comungarem da sua morte. Estas eram palavras tristes, apontavam para um momento
sombrio. Mas, Jesus não permite que a tristeza assuma toda a direção daquela
conversa.
Jesus
introduz uma nova visão nos seus corações. Ele os convoca a pensar no futuro,
para o tempo em que o Reino se tornar pleno, pois vão novamente cear com Jesus.
E
digo-vos que, desta hora em diante, não beberei o fruto da videira, até aquele
dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai (verso 29)
Jesus
conduz seus discípulos a perceberem que a sua morte não seria o final da
história. Esta palavra, na verdade, naquele momento não fora compreendida por
seus discípulos, mas depois após a sua ressurreição uma mar de esperança
inundou o coração dos seus discípulos.
Precisamos
olhar para o futuro! Precisamos esperar muito mais do que apenas o que vemos e
vivemos aqui. A Cruz é a certeza de um futuro para nós. O texto diz que ele
ceará “conosco” e que o dia se aproximará.
Foi
assim que a Igreja Cristã venceu todos os períodos históricos, olhando para o
futuro e mantendo sua fé, esperança e alegria na volta gloriosa de Cristo.
O
cristianismo consiste e bíblico não é uma fé depressiva, ou de pessoas
imediatistas e materialistas, cujos únicos valores que importam são os
passageiros valores terrenos. Este tipo de pensamento é tão anticristão quanto
qualquer outra adoração a um deus estranho.
A
Cruz nos legou a capacidade de esperar em Cristo. A Cruz, sobretudo o túmulo
vazio nos legou a capacidade de sentir o consolo que vem da vitória certa do Senhor.
Na noite daquela ceia, estas palavras de conforto de Jesus traziam a esperança
para a mesa da tristeza e esta esperança era o que haveria de permanecer.
A
Necessidade da Ação
Uma
das preciosas lições daquela noite é esta: a Cruz era um ato intencional e
proativo. Jesus não ficara à mercê dos acontecimentos, mas estava disposto a
seguir da direção da cruz.
O
verso 30, nos informa que ele canta um hino com seus discípulos e se põe na
direção do lugar onde será preso, o Monte das Oliveiras.
Em,
tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras (verso 30)
Mais
à frente, Mateus nos informa que Jesus sabia exatamente o que estava fazendo e
que deveria realmente estar ali, afinal esperava Judas com sua turba para o
prender:
Então,
voltou para os discípulos e lhes disse: ainda dormis e repousais! Eis que é
chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores.
Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima (versos 45 e 46).
Precisamos
aprender com estas atitudes de Jesus que a nossa fé deve nos levar a estar no
lugar e hora necessários, mesmo que para tanto tenhamos de sofrer.
É
muito imaturo da parte de alguns cristãos deixarem a sua fé se tornar em um
marasmo de passividade e pouca produtividade. Ao contrário, a santa ceia não
deve ser um sacramento que nos instigue à morosidade, ao contrário, ao
reafirmarmos nossas convicções na entrega, comunhão e esperança é muitíssimo
importante que nossas ações reflitam o caráter desta nossa fé.
A
Cruz lança sobre nós o legado do agir. Os que a compreendem não podem ser
tornar passivos neste mundo, mas devem procurar intrepidamente o espaço onde a
marca da cruz possa fazer a diferença.
A
igreja, a comunidade da cruz, a comunhão dos que foram crucificados com Cristo
tem de se manifestar neste mundo. Este legado recebemos de Jesus em sua morte
por nós. Somos a luz do mundo, o sal da terra e isto porque ele deu a sua vida
por nós.
O
viver que temos hoje na carne (como disse o apóstolo) vivemos pela fé em Cristo,
que deu a sua vida por nós. Repita isto todos os dias para si mesmo, relembre a
cruz e trabalhe neste reino.
Naquela
noite, Cristo estava promovendo um chamado que se tornaria ainda mais concreto
no Pentecostes: a igreja deveria ir e testemunhar de Cristo. Tomar da mesa da
ceia sem ter o desejo de testemunhar é uma contradição com Cristo.
Conclusão
Evidentemente,
muitas destas lições só foram compreendidas pelos discípulos depois da
ressurreição e outras somente após a ascensão de Cristo.
Mas
o que aprenderam, conferiu-lhes um sendo de entrega pelo reino, que os levou a
enfrentar as maiores vicissitudes por amor a Cristo e em nome do estandarte da
cruz.
Eles,
por aprenderem as lições da cruz e receberem com fervor o seu legado,
trabalharam arduamente, e as páginas do Novo Testamento comprovam, pela unidade
da Igreja de Cristo.
Eles
viveram os seus dias cheios de esperança e isto os levou a mudar o mundo de
então. Saíram a testemunhar de Cristo, às vezes, com o preço da própria vida,
pois descobriram que a sua pátria não era neste mundo, mas um Reino Celestial,
no qual habitam o paz e a justiça.
O
mesmo Reino inabalável que todos nós aguardamos.
Aplicação para a Igreja
Presbiteriana de Vila Formosa
Querida
igreja!
Este
tipo de fé precisa ser visto também entre nós. Sei que Deus ainda levantará
homens e mulheres com o calibre certo para terem a Cruz como a sua bandeira e
receberem consistentemente o seu legado.
Pensem
sobre suas vidas e sobre o este sacramento que estamos para dele tomar. Olhem e
vejam a cruz e os seus compromissos com o Reino de Cristo. Pense proativamente
em viver para glória de Cristo.
Pense
na entrega que fará, o preço que estarás disposta a pagar por sua entrega.
Pense na comunhão que deve ser um dos lemas mais preciosos do nosso convívio,
pense em como você pode participar da construção desta comunhão.
Reflita
também sobre a esperança do seu chamamento e o compromisso de ser um agente da
esperança neste mundo. Uma igreja sem esperança é uma igreja morta. Assim
também o é, uma igreja que vive apenas para si mesma.
Nosso
chamado é para proclamar as virtudes daquele que, pela cruz, nos chamou ao
Reino da luz.
Em
Cristo
Rev.
José Mauricio Passos Nepomuceno
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